Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 14 de novembro de 2020

A mãe das jornalistas

Novembro
14
A mãe das jornalistas

Na manhã de 14 de novembro de 1889, Nellie Bly começou sua viagem.



Júlio Verne não achava que aquela mulherzinha linda conseguisse dar a volta ao mundo, ela, sozinha, em menos de oitenta dias.

Mas Nellie abraçou o planeta em setenta e dois dias, enquanto ia publicando, reportagem após reportagem, o que via e vivia.

Aquele não era o primeiro desafio da jovem jornalista, nem foi o último.

Para escrever sobre o México, se mexicanizou tanto que o governo do México, assustado a expulsou. Para escrever sobre as fábricas, trabalhou como operária. Para escrever sobre as prisões, se fez prender por roubo. Para escrever sobre manicômios, simulou loucura, e atuou tão bem que os médicos a declararam louca de pedra; e assim conseguiu denunciar os tratamentos psiquiátricos que padeceu, capazes de enlouquecer qualquer um.

Quando Nellie tinha vinte anos, em Pittsburgh, o jornalismo era coisa de homens.

Naquela época, ela cometeu a insolência de publicar suas primeiras reportagens.

Trinta anos depois publicou as últimas, desviando das balas na linha de fogo da Primeira Guerra Mundial.

(Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias, L&PM Editores, 2012, página 360)