Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Brasília não é óbvia quando percorrida a pé

Sexta, 9 de dezembro de 2022

Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna

“Se eu dissesse que Brasília é bonita, veriam imediatamente que gostei da cidade. Mas se digo que Brasília é a imagem de minha insônia, veem nisso uma acusação; mas a minha insônia não é bonita nem feia — minha insônia sou eu, é vivida, é o meu espanto.” — Clarice Lispector


Por Leticia Sabino, publicado originalmente em ArchDaily

Em 2020, Brasília completou 60 anos. O aniversário quase me escapou, mas, em tempos de isolamento, lembrei-me das caminhadas que tive oportunidade de fazer por lá no ano passado e que me despertaram para o belo, o não belo, e também para o “não óbvio” da famosa cidade modernista. Dito isso, compartilho aqui o meu espanto ao percorrer a pé a cidade-máquina.

Brasília é muito conhecida por seu eixo monumental, obras arquitetônicas de Niemeyer, suas rodovias urbanas e os poderes afastados da população. Ao partir dessa ideia, fui surpreendida positiva e negativamente quando caminhava pelo Plano Piloto, pois, além de tudo isso e de todo imaginário construído, há muitas coisas de Brasília que não são contadas, talvez porque pouco se percorra a pé.

Catedral Metropolitana de Brasília. Foto de Chico Sant’Anna

Caminhar em Brasília

Toda e todo urbanista, amante de cidades, pessoa interessada em práticas urbanas deve (re)conhecer Brasília a pé. Não devem fazê-lo com a ideia já formatada de que a cidade modernista sonhada por Le Corbusier e realizada por Lúcio Costa não funciona. Sim, ela exclui, segrega e idolatra os carros. Porém, é preciso se propor a caminhar por ela de forma atenta, curiosa e sem preconceitos para entender o que oferece, além do óbvio.

“Mas, é possível caminhar em Brasília?”, você pode estar se perguntando. Minha resposta é: em muitos lugares sim, totalmente, e ao fazê-lo só consegue pensar “por quê não há mais pessoas caminhando?”, enquanto em outros como, por exemplo, na árdua tarefa de atravessar os eixos e “vias” (que percorrem as asas de norte a sul) só com muita raiva da barreira que elas são e tendo que se expor a diversos riscos. No eixo monumental há momentos de felicidade com as mangueiras seguidas de muita indignação com as ideias Niemeyerianas sob o sol do cerrado.

Leia a íntegra