Sexta, 14 de outubro de 2011
Por
Ivan de Carvalho

Nesta segunda rodada, realizada na quarta-feira, feriado nacional dedicado a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, o Movimento Contra a Corrupção recebeu as bênçãos explícitas da Igreja Católica, em manifestações expressas pelo cardeal arcebispo de Aparecida e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, dom Raymundo Damasceno Assis e pelo cardeal arcebispo de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer. O apoio da Igreja Católica, que já havia sido anunciado anteriormente por intermédio da CNBB, mas na quarta-feira se consolidou, é um elemento importante para impulsionar o movimento.
Acrescente-se que também a
Ordem dos Advogados do Brasil, que também já anunciara seu apoio com uma nota
oficial, na quarta-feira passou a participar ativamente do movimento. Seu
presidente nacional, Ophir Cavalcante, convocou os conselheiros federais da
Ordem e os presidentes das seccionais estaduais a participarem da manifestação
realizada em Brasília, que foi a principal, reunindo no mínimo 20 mil pessoas.
O presidente da OAB da Bahia, Saul Quadros, estava lá, mas uma representação da
OAB, “uniformizada”, participou da marcha em Salvador.
Cumpre assinalar, porém,
que, se está havendo perseverança na mobilização contra a corrupção, essa
mobilização se faz diferente de outras tantas que contaram com as estruturas de
partidos políticos e de sindicatos e confederações sindicais. Não quer a
mistura, evita a instrumentalização. E faz muito bem.
Esta seletividade obriga,
no entanto, a aumentar a criatividade. Uma óbvia, natural, intuitiva, mas
grande idéia foi adotar a vassoura como símbolo do movimento. Este pediu que,
na quarta-feira, os moradores de Copacabana (onde ocorreu a manifestação
carioca) colocassem vassouras nas janelas. Não sei se o fizeram. Sei apenas que
a praia amanheceu com 594 vassouras pintadas de verde e amarelo fincadas na
areia. Uma para cada congressista.
Um certo senhor muito apreciado
nos ibopes lançou no país uma tese segundo a qual uma campanha contra a
corrupção tem a marca da “moralidade”, que é característica “da direita”, com o
que, claro, a campanha passa a ser automaticamente “de direita” e “direitistas”
se tornam automaticamente os que a fazem, os que participam.
Ora, isso é estranho, muito estranho, pois, no reverso da medalha (ou da moeda, já que estamos tratando de corrupção) os que são contrários a campanhas de corrupção, os que a querem inatacada, sabe-se lá por qual razão – muitos, neste sentido atuando no twitter, talvez por mero adestramento perpetrado pelo autor da mencionada e tão esquisita tese – representariam os que não são de “direita” e, detestando eles o “centro”, são necessariamente “de esquerda”. Então eles estão querendo mesmo dizer que a corrupção é coisa da “esquerda”?
Não creio que seja essa a intenção – que suponho
seja apenas a de enrolar as pessoas que eles acham bobas–, mas quem não sabe
rezar xinga Deus.
Em tempo: a vassoura é ótima. É um ótimo símbolo para a campanha. Todo mundo
tem vassoura. Pelo menos, toda casa ou apartamento. A vassoura é democrática. No
Chile usaram as panelas, mas panelaços as estragam. A vassoura é incorruptível.
Merece tratamento em separado.
Foto: Agência Brasil
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.