Quarta, 5 de outubro de 2011
Por Ivan de Carvalho

A República Popular da China é, sem nenhuma dúvida, a maior ditadura que a história humana registra, sob o aspecto de exercer-se sobre um maior número de pessoas. Se houve outra maior, não nos restaram registros a respeito.
É a mais antiga do mundo, atualmente, com 62 anos
de exercício do poder, embora o recorde pessoal pertencesse ao comandante Fidel
Castro, que até entregar, por graves razões de saúde, o seu poder e cargo de
“presidente” ao irmão Raul Castro (ditadura hereditária), era o homem
recordista em tempo de exercício de ditadura no mundo.
Na China tem sido diferente. Após um prolongado
mando absoluto de Mao Tsé-tung, passaram a ocorrer agitações e disputas na
cúpula do poder e houve mudanças de pessoas e alterações de estilos e mesmo
orientações. Mas tudo isso dentro do sistema totalitário que ainda não foi
abalado e defende-se sua perpetuação a todo o custo.
No que a ditadura chinesa é realmente sem
concorrência na história é quanto ao número de pessoas em que se exerce em um
determinado momento. Atualmente, contando com o anexado Tibet, feita à força
pela China (apesar de ser contrária a qualquer anexação israelense na
Palestina, ainda que mínimas e feitas em decorrência de guerras que não
provocou e realizadas pelos antigos donos do lugar, do qual foram expulsos no
ano 70 d.C.), o grande país da Ásia, segundo maior do mundo, tem uma população
de 1,34 bilhão de escravos, desculpe o leitor, pessoas.
É possível (não fiz contas nem consultei estudos
demográficos) que mais gente haja vivido sob o Império Romano, mas não em um
dado momento e sim somando-se seus habitantes durante os 15 séculos que durou
(contado o Império Romano do Oriente, com sede em Bizâncio).
Pois esse colosso moderno e que agora se
moderniza velozmente está com medo da Internet. A China tem hoje mais de 500
milhões de internautas e teme que a Internet se transforme na ponta de lança
que viria corroer gradualmente o controle totalitário exercido sobre a sociedade
e criar condições para virar o jogo a favor da liberdade algum dia.
Tem mais de 500 milhões de internautas.
Perseguidos pelo número de páginas da Internet que estão impedidos (por filtros
oficiais) de acessar – essas páginas já atingem 500 mil, como assinala uma
síntese da questão em reportagem da Veja
desta semana sobre a China.
Como televisão, rádio e jornais na China são
controlados pelo governo, que também controla os correios e o que os escravos
(cidadãos, quero dizer) enviam por intermédio deles, a Internet era a última
porta, que se trata de fechar. O Google, depois de submeter-se a alguns acordos
vergonhosos, acabou tomando vergonha e retirou-se para não se desmoralizar.
O Facebook e o Twitter foram proibidos e redes
sociais similares foram criadas sob gestão oficial. O Facebook de lá se chama
“Renren” e renren significa policial – para inocular e manter o medo dos
internautas, Renren aparece no alto da tela avisando que cada internauta é
responsável pelo que acessa ou põe na Internet. O internauta passa a se sentir
permanentemente vigiado por uma ditadura totalitária que, segundo
especialistas, tem pelo menos 40 mil pessoas trabalhando no monitoramento da
Internet.
Pois os BRICs (Brasil, Rússia, Índia, China e,
agora, também África do Sul) estão defendendo junto à ONU um órgão de regulação
da Internet.
Big Brother profetizado por George Orwell avança.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
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Foto: Google imagem