Terça, 11 de outubro de 2011
Por
Ivan de Carvalho

A comparação tem levado em
conta, implicitamente, a força política atual de Wagner e a força política de
ACM na sua segunda fase de domínio político da Bahia. Não se tem considerado o
período anterior à espetacular eleição de Waldir Pires para governador, em
outubro de 1986, mas somente a segunda fase de domínio do carlismo, iniciada
com a vitória de ACM na eleição de outubro de 1990 para governador – a terceira
vez em que ele chegou ao cargo, a primeira após a democratização do país.
A partir daí, o poder de
ACM experimentou um ciclo de acelerado crescimento. Do governo ele foi para o
Senado, deixando no Palácio de Ondina o amigo Paulo Souto, seguindo-se César
Borges e retornando depois Paulo Souto, que tentou a reeleição em 2006 e
finalmente teve de passar o poder a Jaques Wagner, do PT, partido que na Bahia
se beneficiou de uma evidente fadiga social em relação ao carlismo.
Antes desse final melancólico, ACM apoiou e participou
do governo Sarney, apoiou e indiretamente participou do governo Collor, não
teve maior influência sobre o governo Itamar Franco, mas exerceu enorme
influência no primeiro governo de FHC e em parte do segundo, quando então um
incidente resultou em um afastamento profundo, envolvendo rompimento pessoal, o
que, junto com outros fatores de ordem nacional e razões da política baiana,
marcou o início do declínio. Antes, a morte prematura de Luís Eduardo já
representara um imenso revés para o futuro político do carlismo – e se não
houvesse ocorrido talvez hoje a história da Bahia e até do Brasil fossem bem
diferentes.
Mas, aqui importa dizer que
em seu tempo áureo ACM mandava em tudo, onde devia e não devia, no Executivo,
no Legislativo, no Judiciário (tinha forte influência sobre a maioria do
Tribunal de Justiça e, conseqüentemente, do Tribunal Regional Eleitoral). E tinha
uma força política, no sentido restrito, partidário-parlamentar,
incontrastável.
Ele tinha carlistas,
pessoas de total confiança (pelo menos enquanto ele estivesse no poder) no
comando de vários partidos, além do dele próprio, o extinto PFL. Qualquer coisa
importante que houvesse, passava as ordens para esses comandos de partidos
aliados, que obedeciam sem questionar.
Com Wagner não é assim. Ele
tem influência (como quase todo governador tem) no Tribunal de Justiça, mas não
o suficiente para exercer controle como fizera ACM. E resta saber se Wagner
gostaria de ter ou exercer esse controle, que custa um preço e não impressiona
bem. E que seria especialmente incômodo em um momento em que aumentam e se
acentuam desencontros de posições sobre questões do Judiciário dentro do
próprio TJB, gerando alguma turbulência nos bastidores do tribunal.
Quanto aos partidos que
integram a base política de seu governo, são aliados, mas nem tanto. Em 2008,
nas eleições para prefeito de Salvador, tendo o PT, seu partido, um candidato a
prefeito, o governador Wagner foi e discursou em três convenções, cada uma
formalizando uma candidatura diferente. Bem, PMDB e PSDB já não estão na base,
mas o PC do B, fiel aliado de tantos anos, mesmo sabendo do agarramento do PT
com Pelegrino, lançou candidata própria Alice Portugal. E, no PSB, a senadora
Lídice da Mata está incomodada por não estar sendo ouvida. O PDT cismou de
lançar a candidatura do deputado Marcos Medrado. E o PP, do ministro Mário
Negromonte e do prefeito João Henrique, ensaia lançar o deputado chefe da Casa
Civil, João Leão.
Na Assembléia, ACM sempre
teve apoio amplamente majoritário, mas nunca apoio tão numeroso quanto Wagner
tem hoje. Quase não existe oposição. No entanto, o rebanho de cujo apoio
desfrutou ACM era ordeiro, disciplinado, obediente. No rebanho que apóia Wagner
sempre há ovelhas desgarradas, rebeldes, exigindo cuidados especiais. Sem levar
em conta as apenas descontentes.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - -Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.