Sábado, 8 de outubro de 2011
Da Agência Brasil
Alana Gandra - Repórter
Rio de Janeiro - Mudanças simples no estilo de vida, que não
precisam da atuação do sistema público de saúde, podem ser eficazes para
a prevenção do câncer no Brasil, disse o presidente da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), José Humberto Simões Correa.
“Com pequenas mudanças educacionais, você consegue diminuir a mortalidade de câncer em torno de 30% a 40%”, disse Correa à Agência Brasil.
O controle do peso, os exercícios físicos três vezes por semana, uma
dieta pobre em gordura e rica em frutas e fibras, além do não tabagismo e
do controle da ingestão de bebidas alcoólicas são as medidas mais
importantes de prevenção do câncer, lembrou o especialista. “Isso já é
um grande ganho na diminuição da incidência de câncer”.
No próximo dia 13, a SBCO promoverá, no Centro de Convenções Sul
América, no Rio, o 10º Congresso Brasileiro de Cirurgia Oncológica, cujo
foco principal é o tratamento do paciente com câncer no aspecto da
terapêutica cirúrgica. “O que tem de mais avançado em cirurgia do
câncer”, completou.
Simões Correa lamentou que embora o Instituto Nacional do Câncer
(Inca), do Ministério da Saúde, tenha um programa de formação de
centros de câncer no país, há um problema de fixar profissionais nesses
centros. “Como fixar um profissional que é formado, tem cinco ou seis
anos de pós-graduação, em uma região que não tem grandes atrativos
socioculturais?”, indagou. A questão será discutida no congresso.
Apesar de o Brasil mostrar evidente avanço socioeconômico, o
presidente da SBCO lembrou que ainda existem regiões com indivíduos em
situação de pobreza, o que dificulta o tratamento de um paciente
oncológico de forma multidisciplinar. Como 70% a 80% dos tumores de
câncer no Brasil são avançados localmente, ou seja, têm a doença
disseminada, é preciso que o tratamento inclua, além da cirurgia, a
radio e a quimioterapia. “Você tem dificuldade de associar essas três
modalidades.O tratamento de câncer hoje é multidisciplinar. Você precisa
ter um cirurgião de câncer, um oncologista que faz a quimioterapia, e
o radioterapeuta. Não há essa integração”.
Ele acredita que a conjugação de fatores, como diagnóstico precoce,
equipe multidisciplinar e bom estado nutricional pode ampliar a
sobrevida de doentes com câncer, hoje estimada em cinco anos. “Não só a
sobrevida aumentaria, como esses pacientes seriam mais beneficiados por
esse tratamento, que poderia possibilitar a cura. A chance de cura
aumenta”.
Para se ter ideia da importância do diagnóstico precoce e do
tratamento multidisciplinar das vítimas da doença, o presidente da SBCO
informou que há cerca de 49 mil casos de câncer de mama no Brasil, 28
mil de câncer colorretal, 52 mil de câncer de próstata, 26 mil casos de
câncer de pulmão, cujo tratamento principal é a cirurgia.
De acordo com o Inca, são esperados, este ano, 500 mil novos casos
de câncer no país. Essa é a segunda causa de mortalidade no Brasil. A
primeira são as doenças cardiovasculares. Para o instituto, o problema é
que a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) não está capacitada a fazer o
diagnóstico precoce e, por isso, cabe à própria população adotar
medidas de prevenção.
O congresso da SBCO tem o apoio do Inca e da Fundação do Câncer.
Pela primeira vez, o encontro será realizado em conjunto com o 2º
Congresso Brasileiro de Nutrição Oncológica do Inca. Os dois eventos se
estenderão até o dia 14 e contarão com a participação de 2 mil
profissionais do setor e nove especialistas internacionais.
Durante os congressos, será lançado o segundo volume do Consenso
Nacional de Nutrição Oncológica. O documento foi construído nos últimos
dois anos e aborda condutas nutricionais recomendadas para pacientes
oncológicos e sobreviventes de câncer.