Sábado, 8 de outubro de 2011
Por
Ivan de Carvalho
Todo mundo sabe e quase todo mundo diz que o ministro
das Cidades, Mário Negromonte, deputado baiano e presidente estadual do PP,
está a um passo de deixar o cargo. Para ele foi indicado pela bancada federal
de seu partido, formada por 41 parlamentares e da qual fora líder na
Legislatura anterior.
Mas aconteceu de o ministro
perder o apoio da maioria da bancada, na qual atualmente conta com uns dez
aliados. Nos bastidores de Brasília (e da Bahia) comenta-se que ele está
enfraquecido junto ao governo, que não se interessa em ajudá-lo a recuperar-se.
Não o estaria consultando nem chamando-o a participar de decisões importantes.
Com o enfraquecimento do
ministro Negromonte junto a sua bancada, o governo Dilma Rousseff aproveita a
onda, aparentemente com a intenção de provocar sua substituição. Cumpre lembrar
que, quando da escolha do ocupante do cargo, ficou claro que a presidente da
República não simpatizava com a indicação de Negromonte, feita pela bancada do
PP, mas acabou aceitando-a, pois a bancada insistiu, praticamente fechou
questão e não arredou pé. Dilma Rousseff preferia ter Márcio Fortes como
ministro.
O governo Dilma Rousseff
parece não ter o menor interesse, agora, de ajudar Negromonte a permanecer no
cargo. Caso tivesse, seria fácil. Bastaria liberar verbas para obras do
Ministério das Cidades, especialmente dotações existentes em virtude de emendas
parlamentares à lei orçamentária e isso permitiria que o ministro baiano
revertesse a situação ruim em sua bancada. Mas já está aí em dificuldade há uns
90 dias e, se não se recompôs nesse tempo, certamente não está encontrando
ajuda do Executivo para isso.
Para se manter no cargo sem
sustentação da bancada, nas circunstâncias atuais, talvez só com uma eventual e
providencial ajuda do governador Jaques Wagner. É que Wagner é um governador do
PT e com prestígio junto à cúpula de seu partido e à presidente Dilma Rousseff.
Ele, que não tem nenhum ministro genuinamente seu, poderia chegar e dizer,
“ora, eu não tenho nenhum ministro, deixa o Negromonte no ministério, é
importante pra mim e pra Bahia”. Por enquanto, no entanto, o governador não fez
isso e, se fizer, é evidente que se tornará um grande credor de Negromonte e do
PP da Bahia. O pagamento dessa dívida poderia ocorrer no ano que vem, nas
eleições do prefeito da capital e em 2014, nas eleições gerais.
Gato escaldado tem medo até
de água fria. O governador já tivera um problema sério com o crescimento do
PMDB durante o seu primeiro mandato. No segundo mandato, foi-se o PMDB, mas
apareceu o PP com seu ministro, numa pasta importante. Jaques Wagner deve ter
ficado muito preocupado. Daí que retirou a importante Secretaria de
Infraestrutura do pepista João Leão e a entregou – junto com várias obras e com
planos grandiosos e vistosos – ao vice-governador Otto Alencar, que era então
filiado ao PP, mas autônomo e pronto para mudar de legenda (fundou na Bahia o
PSD).
João Leão foi se consolar na chefia da Casa Civil
do prefeito de Salvador, onde ensaia candidatura a prefeito da capital se
receber o apoio do prefeito João Henrique, atualmente no PP. O problema é que a
permanência de Negromonte como ministro das Cidades, com autonomia política e
força para carrear recursos expressivos para a capital são premissas da
candidatura de João Leão a prefeito. Se desaparecerem as premissas, como se vai
rezar a missa? O prefeito João Henrique bem que gostaria de ter um palanque
para defender sua gestão, seu candidato, quando menos para não subir no
palanque de Pelegrino e arriscar-se a vaias. Mas se o Leão não rugir, que pode
ele fazer?
Em tempo: para a oposição, não é bom o
enfraquecimento do ministro Negromonte e, consequentemente, do PP da Bahia. O
PP forte e autônomo poderia ser um elemento de divisão na base do governo. Mas
fraco...
- - - - - - - - - - - - - - - - - - Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.