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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Arruda falou pela primeira vez à Justiça do DF sobre a Operação Caixa de Pandora

Quarta, 17 de outubro de 2012
Do TJDF
Apesar de os advogados do ex-governador do DF José Roberto Arruda tentarem suspender o processo de Improbidade, o qual seu cliente responde juntamente com os réus Jaqueline Roriz, Manoel da Costa Neto e Durval Barbosa, a estratégia não teve êxito. Na tarde dessa terça-feira, 16/10, os quatro réus foram inquiridos sobre a denúncia do MPDFT constante na Ação Civil de Improbidade nº 45.401-3/2011, que tramita na 2ª Vara da Fazenda Pública do DF.

Os réus são acusados de Improbidade Administrativa em virtude da prática dos atos descritos nos artigos 10 e 11, caput, da Lei nº 8.429/02 (dano ao erário e atos contrários aos princípios que regem a administração pública). Eles foram incursos nas reprimendas previstas no art. 12, inc. III da mesma Lei, quais sejam: ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos

A audiência marcada para começar às 14h30 começou às 14h52. Os advogados de Arruda tentaram suspender o processo alegando que as provas emprestadas da Ação Penal 707, que tramita no STJ, são ilegais. Segundo eles, todas as fitas apresentadas por Durval foram editadas e cortadas, segundo laudo da própria Polícia Federal. O juiz, no entanto, não aceitou os argumentos dos patronos de Arruda. “O Juízo Cível tem autonomia em relação ao Juízo Criminal. Se houver motivos para impugnação sobre qualquer documento constante dos autos sob alegação de falsidade ou de adulteração deve o incidente seguir a risca o preceito descrito no artigo 390 do Código de Processo Civil”, afirmou.

Os quatro réus foram inquiridos e responderam a todas as perguntas feitas pelo magistrado e pelos membros do MPDFT. O interrogatório seguiu a mesma ordem adotada na denúncia: a Deputada Federal Jaqueline Roriz foi a primeira a prestar depoimento; na sequencia depuseram Manoel da Costa Neto, marido da parlamentar; Durval Rodrigues Barbosa e, por último, o ex-governador José Roberto Arruda.

Síntese dos depoimentos:  

Jaqueline Roriz afirmou que o dinheiro recebido das mãos de Durval, que aparece nas imagens de uns dos vídeos constante do inquérito 650, da Operação Caixa de Pandora, foi doado por ele para reforçar a campanha dela ao pleito de deputada distrital no ano de2006. Adoação ocorrera por ela ser filiada à época ao mesmo partido do irmão de Durval, Milton Barbosa (PSDB). 
Durante o depoimento, a deputada evitou usar a expressão “caixa2”. Disse que mantinha uma postura independente em relação ao Governo Arruda e que a negociação para compor a base aliada do governo foi feita diretamente com o governador, quando ele lhe ofereceu a Administração Regional de Samambaia. Na ocasião, por determinação do seu grupo político, ela indicou Rui Alves para ocupar o cargo de Administrador. Afirmou que demorou a formalizar o apoio ao governo por conta da rixa política existente entre Arruda e o pai dela, Joaquim Roriz. Apesar de ser da base aliada, sempre manteve postura independente. Em relação à Operação Caixa de Pandora, afirmou ter tido conhecimento do assunto através da mídia e, nesse período, já teria rompido com o governo. 

O depoimento de Manoel da Costa Neto foi bem curto, durou 20 minutos. O marido de Jaqueline Roriz afirmou que participou da campanha dela à deputada distrital fazendo o trabalho de marketing. Em relação às imagens gravadas por Durval, afirmou que recebeu cerca de R$ 20 mil das mão do delator e que esse valor era uma ajuda para a campanha da mulher. Afirmou acreditar que o dinheiro pertencia ao próprio Durval. Negou qualquer outro tipo de ajuda, como rádios nextel e computadores. 

Durval Barbosa ratificou todas as acusações feitas na fase do inquérito e da delação premiada. Afirmou que entre 2003 e 2006 foi convidado por Arruda a coordenar sua pré-campanha ao pleito majoritário de 2006. Nessa época a preferência da cúpula do PFL (atual DEM) era pela candidatura de Paulo Otávio, maior inimigo político de Arruda. 

Para fomentar a campanha de Arruda, Durval afirmou que passou a arrecadar propina das empresas que contratavam com o governo local. Os contratos eram feitos através do Instituto Candango de Solidariedade (ICS) ou contratos emergenciais, que dispensam licitação. Durante esse período, todas as despesas de Arruda passaram a ser pagas por Durval, inclusive viagens internacionais, com o dinheiro arrecadado. Além disso, a propina bancava panetones, santinhos, cartas enviadas aos eleitores, publicação da revista Arrudinha, flores enviadas às eleitoras no Dias das Mães, etc. “Eu frequentava a casa de Arruda, no Setor de Mansões Dom Bosco, quase todo dia. Ás vezes deixava dinheiro num banheiro da casa, que ficava à esquerda. Deixava inclusive dólares”. A prestação de contas era feita semanalmente. Durval afirmou que costumava guardar o dinheiro arrecadado no apartamento da sua então sogra, em Águas Claras. Quando Arruda soube disso ficou nervoso e mandou: “Dê um jeito nisso, pois mulher quando toma conhecimento de alguma coisa costuma “vazar” o que sabe”. 

Durval afirmou que o primeiro apoio político que eles compraram foi o de Benedito Domingos. Arruda teria lhe dito: “Se você me der o Benedito eu ganho no 1º Turno”. Nesse momento do depoimento, Durval disse ao juiz: “o Benedito já é conhecido em Brasília, apóia quem dá mais dinheiro”.  Além da compra de apoio político, que segundo Durval, incluiu também os deputados distritais Benício Tavares, Eurides Brito, Fábio Simão, Odilon Aires, etc, José Roberto Arruda ainda promoveu a compra de outros candidatos para que não falassem mal dele no programa eleitoral gratuito. Como exemplo, Durval citou a candidata Fátima Passo, que de acordo com ele, teria recebido R$ 200 mil por meio de Wellington Moraes. 

Quanto à Jaqueline Roriz, Durval disse que foi orientado por Arruda a auxiliar financeiramente com a campanha dela. Arruda teria dito a ele: “Ela não precisa pedir votos para mim, basta não pedir votos para a Maria Abadia”. Segundo Durval, o valor repassado ao marido da parlamentar teria sido superior a R$ 100 mil. Além disso, foram providenciados para a campanha dela suporte na área de informática e rádios Nextel, cujas faturas eram pagas pelo governo. Durval não soube informar se após a eleição Jaqueline Roriz recebia dinheiro para apoiar a base governista. 

Quanto ao custo da campanha de Arruda, em 2006, Durval afirmou que foi superior a R$ 100 milhões. O depoimento de Durval Barbosa durou mais de 1 hora.

Às 17 horas foi a vez de José Roberto Arruda contar pela primeira vez sua versão dos fatos, que foram amplamente divulgados pela mídia. Arruda começou o depoimento afirmando ter sido vítima de uma vingança urdida pelo grupo liderado por Durval Barbosa. Arruda contou que no governo anterior ao seu, Durval Barbosa ocupava o cargo de Presidente da Codeplan. E que quando assumiu o governo, vários foram os pedidos para reconduzi-lo ao cargo. No entanto, após colher informações junto ao MPDFT, mesmo precisando de apoio político para gerir seu governo, que não tinha maioria política, resolveu não empossar Durval na presidência da Codeplan, nomeando-o a um cargo de assessoria sem acesso a gostos públicos e sem coordenação de despesas. Essa atitude teria ferido muitos interesses e a partir desse momento passou a ser chantageado por Durval. Por não ter cedido às chantagens, deflagrou-se contra ele, tanto no âmbito político quanto jurídico, um rompimento para prejudicá-lo, inclusive em relação à pretensão de se reeleger em 2010. 

Arruda relatou que um dos seus primeiros atos como governador foi extinguir o ICS, o que acarretou a demissão de mais de 15 mil funcionários contratados sem concurso público. Ato contínuo reduziu as despesas na área de informática de R$ 2,3 bi para R$120 mi. Acusou o sistema político brasileiro, financiado por capital privado, de criar as permanentes crises políticas. Invariavelmente os grandes financiamentos de campanhas são seguidos de contratações das empresas financiadoras. Citou como exemplos outros governos, tanto a nível estadual quanto federal. Segundo Arruda, basta confrontar os contratos e as doações de campanha para verificar essa equação. “As doações de campanha dão origem a dois problemas para o vencedor: contratação das empresas financiadoras e sistema de recompensa pelo apoio recebido”. O ex-governador afirmou ainda que as doações feitas a sua campanha foram oficiais e declaradas ao TRE. “Porém, quando os doadores pleitearam retribuição do governo, neguei peremptoriamente, o que contrariou muitos interesses”.   

Quanto a Durval Barbosa, afirmou tê-lo conhecido apenas em 2005, mas disse não lembrar se o encontro foi na sua residência no SMDB ou na do irmão de Durval, Milton Barbosa. Arruda disse considerar que Durval fez a delação “com raríssima inteligência”. Num primeiro momento ele teria tido êxito, mas agora as denúncias feitas em conta-gotas demonstram os interesses escusos do acusador. “A acusação de Durval é absolutamente sem sentido. E agora eu tenho elementos claros para desmontá-la”. 

Para ler os depoimentos na íntegra:   

Os depoimentos dos réus podem ser acessados na consulta processual de 1ª Instância do site do TJDFT: www.tjdft.jus.br. O argumento de pesquisa a ser utilizado é o número da ação constante no final da matéria. 

O juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública do DF marcou para o dia 24/10, às 14h30, a Audiência em continuação, oportunidade em que procederá à oitiva das testemunhas arroladas pelos réus.