Sexta,
25 de janeiro de 2013
Por
Ivan de Carvalho
De um modo muito informal, mas nem
por isto menos real, a campanha para as eleições presidenciais de 2014 já
começou. Alguns lances, mais ou menos discretos ou, digamos, não espalhafatosos
já vinham sendo feitos, sem uma data inicial bem definida, mas o chutão que deu
um início notoriamente oficial ao jogo – afinal, estamos vivendo a sociedade do
espetáculo, às vésperas da Copa da Fifa e correndo para as Olimpíadas – foi o
pronunciamento da presidente Dilma Rousseff por uma rede nacional obrigatória
de rádio e televisão, que convocou com dois objetivos:
Um, declarado, de
anunciar a redução do preço da energia elétrica quando as oposições advertem
para apagões e risco futuro de racionamento. É verdade que o governo e principalmente
seu setor de energia elétrica andou tremendo nas bases, embora negando os
riscos enquanto os apagões se sucediam e até conseguiam surpreender a
presidente da República numa solenidade de entrega de casinhas no Nordeste.
Mas nos últimos
dias – últimos mesmos, não penúltimos – as chuvas resolveram descer das nuvens,
caindo onde não deviam (em Salvador, por exemplo), mas também em regiões onde,
se persistirem com a intensidade conveniente no resto de janeiro, em fevereiro
e em março, deverão recompor os níveis de água dos reservatórios das
hidrelétricas. Isso e as poluentes termelétricas funcionando a toda intensidade
podem afastar os fantasmas que assustavam ante previsões que, ao contrário de
2012, estimam um crescimento maiorzinho do PIB – entre 3,3 por cento, o
percentual estimado pelo Banco Central e os 4,5 por cento que já viraram quatro
por cento do ministro da Fazendo, Guido Mantega. Bom lembrar que no ano passado
esse ministro previu também quatro por cento ou mais para o crescimento do BIB,
que ficou em um por cento, minimizando apagões e evitando o racionamento de
energia elétrica.
O outro objetivo
de Dilma Rousseff – ao usar seus poderes de presidente da República para
convocar rede nacional obrigatória de rádio e televisão para tratar de assuntos
de relevante interesse público – foi o de executar um ato de propaganda
política pessoal de máxima amplitude, usando a redução do custo da energia como
um pretexto. Na verdade, ela até poderia dar uma declaração aos jornalistas,
seu ministro das Minas e Energia dar uma entrevista coletiva para explicar melhor
e o setor de comunicação do governo divulgar uma nota detalhada sobre o
assunto.
Isso e mais a
cobertura normal da mídia resolveria tudo, em relação à informação do público e
das empresas sobre o preço da energia. O que somente a rede nacional
obrigatória de rádio e tevê e um pronunciamento de conteúdo político ostensivo
e eleitoral disfarçado era a propaganda da presidente à reeleição, em um
momento em que três outros nomes aumentam a intensidade de seus movimentos: o
tucano Aécio Neves, o socialista (aliado do governo) Eduardo Campos e a
ex-senadora e ex-candidata a presidente Marina Silva, apressando os
preparativos para fundar um novo partido.
A presidente deu
um passo perigoso – para ela ou para o país, ou até para os dois – ao usar um
instrumento do Estado à sua disposição para o serviço da nação e colocá-lo
claramente a serviço da propaganda política de seu governo e, para dar às
coisas nome próprio, de sua candidatura à reeleição. Justiça seja feita, até
aqui a presidente Dilma Rousseff não havia adotado iniciativa comparável e terá
sido, muito provavelmente, mal aconselhada, deixando-se levar a fazer a coisa
errada por parecer ela vantajosa. Isso aconteceu muito na mídia da Venezuela
(que foi quase toda confiscada ou controlada pelo governo) antes de Hugo Chávez
fazer sua quarta cirurgia em Cuba e o pior é que, depois que aconteceu,
continua acontecendo.
Aqui aconteceu
agora. Há um grande risco de continuar.
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Este
artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan
de Carvalho é jornalista baiano.