Terça,
8 de janeiro de 2013
Por
Ivan de Carvalho

No sábado, Aleluia afirmou estar “impressionado
com a preocupação de dirigentes e técnicos do setor elétrico brasileiro,
inclusive de integrantes do Ministério das Minas e Energia, que se dizem
intrigados com o desprezo da presidente Dilma Rousseff à forte possibilidade de
um racionamento de energia neste ano”. A presidente dissera, entre o Natal e o
Ano Novo, que é “ridículo” falar em racionamento de energia.
Na ocasião, Dilma Rousseff falou de apagões,
sugerindo que as pessoas “gargalhem” quando puserem a culpa de algum em um raio
e ensinando que se há um apagão “é falha humana”, o que, mesmo a este repórter,
que não simpatiza com a teoria dos raios, pareceu uma afirmação radical. Mas o
essencial mesmo foi a rejeição liminar, pela presidente, da hipótese de
racionamento de energia elétrica. Apesar disso, as informações que vêm sendo divulgadas
sobre os níveis críticos dos reservatórios das usinas hidrelétricas,
principalmente no Nordeste e Sudeste, não autorizam o otimismo presidencial.
Antes, o contrariam, pois o regime de chuvas tem ficado distante do necessário para
recuperar a níveis minimamente seguros esses reservatórios. As usinas térmicas
estão todas trabalhando ao máximo em um evidente esforço para poupar água,
ainda que criando problemas financeiros, porque o custo de produção das usinas
térmicas é muito mais alto.
Depois de comparar a situação atual com aquelas
que levaram, nos anos de 1986 e 1987, a um racionamento de energia no Nordeste
e em 2000 a 2001, em todo o país, Aleluia acrescentou que Dilma Rousseff, com
seu comportamento ante a situação atual, “está dando razão àqueles que
duvidavam de sua capacidade como gestora, fama, de resto, apregoada por seus
aliados, sobretudo Luiz Inácio Lula da Silva, quando presidente”.
Aleluia ressaltou ainda que a presidente Dilma
Rousseff foi ministra das Minas e Energia, depois passou à Casa Civil, mas
continuou “dando as cartas no setor elétrico”, onde “nomeou quem quis” e agora,
com ela presidente, “o Brasil vive uma sequência de apagões sem paralelo na
história e está na iminência de um racionamento”.
Bem, não dá para saber se as declarações e a
advertência de Aleluia – coincidindo com a presença da presidente na Bahia, em
férias de alguns dias na praia de Inema – tiveram ou não alguma influência. Mas
ontem a colunista Eliane Cantanhêde, da Folha de S. Paulo, revela que dez dias
após a entrevista já referida a presidente convocou “reunião de emergência
sobre os baixos níveis dos reservatórios” para quarta-feira, em Brasília. A
convocação foi acertada entre ela, durante seu descanso na Bahia, e o ministro
das Minas e Energia, Edson Lobão, que presidirá a reunião e levará à presidente
o balanço que for feito da situação e propostas a respeito.
Na avaliação do governo, os níveis dos
reservatórios estão 62 por cento abaixo dos registrados no ano passado. É o que
assinala a jornalista, observando que o forte calor, principalmente no Sudeste,
tem piorado a situação. O consumo de energia com ar condicionado, ventiladores
e refrigeradores aumentou muito. Um detalhe destacado por Cantanhêde (e que já
havia sido assinalado há alguns dias neste espaço) – a situação não fugiu ao
controle (ainda) por causa do pífio crescimento do PIB, de aproximadamente um
por cento. Se houvesse atingido os 4,5 por cento que o ministro Guido Mantega,
da Fazenda, previra, o consumo de energia estaria bem maior e as coisas estariam
muito mais complicadas no setor.
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Este artigo foi publicado
originariamente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.