Sábado, 9 de março de 2013
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Publicado originariamente no Diário do Centro do Mundo
A triste história de um pastor homofóbico e racista e uma comissão desprestigiada.
Um ditado sábio diz que jabuti não sobe em árvore. Se está lá, alguém
o colocou. Serve para a empresa em que você trabalha e para o deputado
Marco Feliciano (PSC-SP), eleito presidente da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara.
Feliciano é barra pesada – mas antes disso vale a pena tentar
entender como ele chegou aonde chegou. Foi eleito presidente com 11
votos, um a mais do que o necessário. O colegiado tem 18 parlamentares
titulares.
A “distribuição” do comando das comissões vai de acordo com o tamanho
da bancada de cada legenda. Os líderes partidários escolhem aquelas que
sua sigla quer presidir. A CDH foi a penúltima a ser escolhida, o que
dá uma dimensão de seu prestígio. “Não foi o PSC que quis a comissão”,
disse o deputado André Moura. “Nós gostaríamos de permanecer presidindo a
Comissão de Fiscalização Financeira e Controle. Mas não foi possível”.
A CDH era chefiada pelo PT. O partido desistiu dela para pegar outras
comissões e criou espaço para o aliado PSC, da bancada evangélica.
Nunca se ouviu falar de nada que a CDH tenha feito em prol de ninguém. É
mais ou menos como o Ministério da Pesca, que não criou mais peixes ou
pescadores. Sua função é acomodar políticos. Ela foi criada em 1995 e,
de acordo com o site oficial,
“recebe anualmente, em média, 320 denúncias de violações dos direitos
humanos”, a maioria referentes a detenções arbitrárias, seguidas de
violência policial e violência no campo.
Mas lida com muito dinheiro, coisa a que o pastor Feliciano está
acostumado. Um “programa de proteção e promoção dos direitos dos povos
indígenas” tem orçamento, em 2013, de R$ 35.863.432, com a proposta de
uma emenda para aumentar para R$ 200.000.000. Outro programa, este de
políticas para as mulheres, tem um valor de R$ 11.778.750,00.
Não é de hoje que Marco Feliciano tem posições firmes sobre
homossexuais, mulheres e negros (ainda não se sabe o que ele acha dos
índios, mas logo MF encontrará uma passagem bíblica dizendo que eles
foram expulsos do bar porque o Senhor não aprovou suas tangas). Publicou
nas redes sociais que “africanos descendem de ancestral amaldiçoado por
Noé. Isso é fato”. (“Fato”, nesse caso, deve ser entendido como as
“verdades científicas” do nosso querido Malafaia). Escreveu que “a
podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, à
rejeição”.
Dono da igreja Avivamento, está sendo processado por estelionato.
Recebeu R$ 13,3 mil para realizar dois cultos religiosos no Rio Grande
do Sul e deu o cano. Alegou que ficou doente, mas na verdade estava se
apresentando no Rio de Janeiro. A organizadora do evento pede R$ 100 mil
de indenização. Também responde a ação no STF por homofobia.
Natural de Orlândia, interior de São Paulo, tem pinta de cantor de
churrascaria, com cabelo lambuzado de gel, penteado para trás, e um
mullet. O vozeirão é uma arma e ele sabe disso, como Tim Maia. Está em
seu site: “Antes de ser cativado pela simpatia pessoal e pela
simplicidade (sic), a oratória e a eloquência surpreendente marcam sua
personalidade. Todos que têm a oportunidade de ouvi-lo ficam
impressionados com a vastidão de seus conhecimentos e as profundas
convicções humanistas defendidas com afinco”. Essa potência vocal pode
ser apreciada no clássico vídeo em que MF exige saber a senha do cartão
de um fiel, o hoje famoso Samuel. MF afirmou, hoje, que estava
“brincando”.
Caso você tenha se interessado, para ser sócio da Avivamento é
preciso pagar dízimos de R$ 30, R$ 60 ou R$ 100. Calma. De acordo com
MF, está tudo no Evangelho de São Marcos, capítulo 4, versículo 3, que
trata de Jesus em busca de semeadores.