Quinta, 14 de março de 2013
Por Ivan de Carvalho

Vale recordar que haviam sido intensos e eram ainda
muito recentes os rumores de que o mundo iria “acabar” em 21 de dezembro,
enquanto para outros a data assinalada no chamado Calendário Maia indicava o
fim de uma Era e o início de outra. O “final dos tempos” anunciado na Bíblia se
produziria com uma destruição radical da atual civilização e o retorno de
Cristo Jesus para julgar a todos e dar início à nova Era.
A renúncia de Bento XVI, hoje Papa Emérito, a não
pouca gente pareceu um sinal, até mais que o raio. E levou uma parte dessa
gente a mais uma vez buscar a profecia de São Malaquias, que a partir do papa
Celestino II elaborou uma lista de 112 papas, dos quais, pelas contas dos
intérpretes, Bento XVI seria o penúltimo e seu sucessor, “Petrus Romanus”, o
último. Então, se ontem, ao ser eleito, o cardeal Jorge Mario Bergoglio
escolhesse o nome de Pedro II, estaria, presumivelmente, confirmando a profecia
– seria o último, morreria nos porões da Barca (os subterrâneos do Vaticano), a
cidade das Sete Colinas (Roma) seria destruída e o “juiz tremendo” julgaria o
povo. E daria início aos tempos novos.
Para quem acredita na profecia, a opção do novo
papa pelo nome de Francisco – um nome rico de simbolismos e, pelo que dele se
diz, em notável afinidade com o seu comportamento e modo de ser, especialmente
a humildade de São Francisco de Assis e a sua identidade com os pobres e
doentes – desnorteia e pode sugerir (peço perdão por falar em tom jocoso de
coisa muito séria) que o fim dos tempos haja sido ligeiramente adiado. Vale assinalar,
no entanto, que o papa Francisco disse em sua saudação: “Parece que os meus
irmãos, os cardeais, foram buscar quase no fim do mundo, um papa” –
referindo-se à distância de Roma à Argentina, onde fazia oposição ao governo de
Kristina Kirchner. Quase no fim do mundo...
Anote-se, ainda, que o novo papa tem 76 anos – uma
idade avançada. Mas convém lembrar que o genoma humano está programado, não
havendo erros, uma vida saudável de 120 anos. A duração de 120 anos está
revelada na Bíblia, no final do drama do Dilúvio – “e todos os seus dias serão
de 120 dias” –, para as gerações pós-diluvianas (as antediluvianas viviam
várias centenas de anos) e a programação genética para 120 anos é hoje
confirmada pela ciência.
Sobre as saudações de chefes de Estado e outras
personalidades que desabaram sobre o Vaticano logo após o anúncio da eleição do
arcebispo de Buenos Aires para papa, vale destacar três: Esta semana, em
plebiscito, 99,9 por cento aprovaram em plebiscito continuar integrando o Reino
Unido. Houve só três votos contra. O monsenhor da Igreja Católica em Port
Stanley, nessas ilhas, Michael Bernard McPartland, parabenizou o papa Francisco,
observando que ele não será visto como argentino, mas como papa. Outro parabéns
notável, e talvez amargo, foi o da presidente Cristina Kirchner, com cujo
governo o papa, quando cardeal, tinha severas divergências – que não vão
desaparecer. Entre elas o apoio de Kirchner à instituição do casamento
homossexual na Argentina.
O mais surpreendente cumprimento, no entanto, partiu
da Venezuela. O “presidente” interino Nicolás Maduro disse que Hugo Chávez, morto
na semana passada, “influenciou no Céu para que seja eleito um papa
latino-americano”. Disse mais: “Alguma nova mão (sic) chegou e Cristo disse que
chegou a hora da América do Sul. Nós sabemos que nosso comandante subiu às
alturas e está frente a frente com Cristo”. Anunciou, ainda, que em breve deve
ser convocada “uma constituinte no céu para mudar a igreja”.
Maduro me parece muito imaturo.
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Este artigo foi publicado originariamente na
Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.