Quinta, 17
de abril de 2014
Pedro Simon*
Do Jornal do Brasil
Na falta de argumentos sólidos
o suficiente, capazes de sustentar uma defesa consistente da atuação da
Petrobras e dos negócios colocados sob suspeita, o governo tergiversa e acusa a
oposição e a mídia de pretenderem desgastar a empresa com uma onda de denuncias.
Aparentemente, essa explicação não está servindo ao propósito esperado
pelo Planalto e seus aliados. A maioria dos brasileiros acredita que existe
corrupção na Petrobras, uma empresa que há cinco anos estava entre as dez
maiores do mundo e, hoje, amarga uma desonrosa 120ª. posição.
O governo faria melhor se reconhecesse sua parcela de
responsabilidade nesse descontrole em que se encontra a Petrobras. Feito isso,
poderia anunciar uma reformulação completa na direção da estatal. Não seria a
primeira vez que um governo agiria dessa forma em resposta a denuncias de
corrupção na empresa. Um gesto dessa natureza teria um efeito pedagógico sobre
a administração em geral, algo há muito necessário. Mas, governos geralmente
não são dados a ousadias desse tipo. Assistimos, recentemente, ao recuo de
decisões que pretendiam moralizar a administração pública, quando ministros e
altos funcionários foram afastados sob a acusação de corrupção e ‘mal feitos’.
Infelizmente, foram chamados de volta, sob a imperiosa necessidade de recompor
a base aliada e tornar possível a manutenção da governabilidade.
Talvez devêssemos procurar nessa tal de governabilidade e nos
termos em que está colocada atualmente, a raiz dos problemas da Petrobras. Em
troca de apoio e votos no Congresso, o governo levou ao limite da
irresponsabilidade o loteamento de cargos na empresa. Diretorias e
departamentos inteiros foram entregues aos partidos aliados, que colocaram
nesses postos a sua gente de confiança, não propriamente exímios conhecedores
das áreas em que iriam atuar. O resultado está aí. Já tivemos o mau
exemplo do Banco do Brasil e dos Correios, denuncias que deram origem a
Comissões Parlamentares de Inquérito. Movimentos que por sua vez levaram ao
mensalão. A dúvida agora é o quanto esse caminho continuou sendo palmilhado e
imaginar o desfecho possível
*Pedro Simon é
senador pelo PMDB-RS.