Quarta, 9 de abril de 2014
Elaine Patricia
Cruz – Repórter da Agência Brasil
A Frente de Esculacho
Popular (FEP) promoveu hoje (9) ato de protesto na sede da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), localizada na Avenida Paulista,
criticando o apoio da entidade à ditadura militar (1964-1985). Além da Fiesp, a
frente denunciou o Banco Itaú, que, segundo os ativistas, ajudou a financiar o
regime militar e também por ter distribuído recentemente uma agenda em que
chamava de revolução o golpe de 1964.
“Hoje estamos esculachando não uma
pessoa, como fizemos até agora, mas duas empresas, que são mais representativas
de toda uma estrutura: a Fiesp e o Itaú. A Fiesp foi uma das principais
organizadoras das reuniões, chamadas de grupos de trabalho, onde os empresários
se reuniam para contribuir para a caixinha da ditadura", explicou Lavinia
Clara Del Roio, uma das organizadoras do ato. Segundo Lavinia, essas empresas,
entre várias outras, financiaram a preparação do golpe, a ditadura e a repressão
e, em troca desse apoio, receberam “facilitações fiscais”, o que as fez “crescer
enormemente”.
Quanto ao Itaú, Lavinia disse que
o banco foi escrachado principalmente pelo fato de um de seus controladores,
Olavo Setúbal, ter sido prefeito biônico de São Paulo entre os anos de 1975 e
1979.
Segundoa Frente de Esculacho
Popular, a “caixinha” era feita pelo regime entre os empresários paulistas para
financiar a Operação Bandeirante (Oban), responsável por atos de repressão
durante o regime. Em fevereiro do ano passado, a Comissão da Verdade de São
Paulo apresentou documentos obtidos no Arquivo Público do Estado que mostravam
indícios de ligação entre a Fiesp e os serviços de repressão da época. Entre os
documentos, há seis livros datados dos anos 70 que registram entradas e saídas
de funcionários e visitantes do extinto Departamento de Ordem Política e Social
(Dops) em São Paulo, um dos órgãos da repressão. Segundo a comissão, nesses
livros, há registro de entradas de Geraldo Resende de Matos, cujo cargo é
identificado como representante da “Fiesp”.
De acordo com Lavinia, as empresas
e a federação precisam dar uma resposta à sociedade. E não somente isso. Para
ela, a Fiesp, por exemplo, deveria abrir seus arquivos, encontrar os culpados e
puni-los. “As empresas tem que se posicionar. Pedimos uma posição e também que,
eventualmente, sejam encontrados os nomes e que se tenha punição e
ressarcimento”, disse ela.
Durante o protesto, vários
cartazes denunciando a participação e apoio da Fiesp e do Itaú na ditadura
militar foram colados em postes, orelhões e pontos de ônibus na região da
Avenida Paulista.
A Frente de Esculacho Popular,
criada em 2012, é uma organização composta por familiares de vítimas da
ditadura e ativistas de direitos humanos, em geral. O objetivo da frente é
promover esculachos, denunciando os colaboradores da ditadura militar, sejam
eles pessoas ou empresas.
Procurados pela Agência Brasil, nem a Fiesp, nem o
Itaú se pronunciaram até o momento sobre o esculacho.