Segunda, 7 de abril de 2014
Do Blog Náufrago da Utopia
Se preferir ir direto à fonte, clique aqui e leia o artigo no Náufrago da Utopia.
Por Celso Lungaretti
Dentre os economistas que serviram a ditadura, os mais lembrados são Roberto Campos e Delfim Netto.
O primeiro tinha todos os defeitos e, ao menos, algum caráter. Quando
foi abandonada a orientação por ele sempre defendida (era devoto do deus
Mercado), não quis mais ser ministro.
O segundo tinha todos os defeitos, somados a um apetite insaciável pelo poder.
Expelido do Ministério da Fazenda em 1974 porque a economia brasileira
entrara em parafuso, aceitou voltar por baixo, bem por baixo, em 1979.
Como ministro da Agricultura, mesmo ignorando se alface brotava no chão
ou dava em árvores.
Além, é claro, de ter ajudado a escancarar as portas do inferno, ao
assinar o AI-5. Hoje alega que ignorava com quantos paus o regime fazia
suas canoas, mas homens dignos, nessas circunstâncias, abstêm-se, ao
invés de tomarem partido no escuro e assinarem cheques em branco.
Num país sério, seu prestígio teria virado pó a partir da redemocratização.
Aqui continuou dando aulas, escrevendo em jornais e até sendo a
eminência parda de presidentes ditos de esquerda (existirão pessoas tão
ingênuas a ponto de acreditarem que sejam mesmo os Paloccis da vida que
traçam as linhas-mestras econômicas dos governos petistas?).
Agora, Delfim Netto cospe no prato em que comeu, inculpando o então
presidente da Petrobrás, Ernesto Geisel, pelo fracasso de sua política
econômica e consequentes cinco anos de ostracismo, mas omitindo que,
quando assumiu o poder, Geisel teve pena dele e atirou-lhe uma boia,
nomeando-o embaixador na França.
E, como quem não quer nada, dá sua contribuiçãozinha ao lobby para a
privatização a Petrobrás, malhando o ferro enquanto está quente:
"Em 1972, eu estava em Roma numa reunião do Fundo Monetário Internacional. E o Giscard D´Estaing que era o ministro de finanças da França, tinha ficado muito amigo do Brasil. E ele me disse: 'olha Delfim, os árabes estão preparando um cartel. Eles vão elevar o preço do petróleo a US$ 6'. Nós pagávamos US$ 1,20 o barril.
Quando voltei para o Brasil, comuniquei isso ao presidente, o presidente convocou uma reunião. Nossa proposta (...) era: 'vamos abrir a exploração de petróleo. Vamos fazer contrato de exploração de petróleo com empresas privadas', que era para acelerar o processo.
O Geisel se opôs dramaticamente. Quem quebrou o Brasil foi o Geisel. O Geisel era o presidente da Petrobras. A Petrobras passou 20 anos produzindo 120 mil barris por dia. Quando houve a crise do petróleo, as reservas eram praticamente iguais a um ano de exportação, não tinha dívida. A dívida foi feita no governo Geisel.
O Geisel, na verdade, era o portador da verdade. O Geisel sempre tinha a verdade pronta".
Alguém esperava do Delfim Netto um comportamento diferente? Eu, não.