Sábado, 7 de fevereiro de 2015
Por
Rennan Martins*

Charge
de Carlos Latuff
Prossegue a oportunista campanha da imprensa que
instrumentaliza as revelações do esquema de corrupção atuante na Petrobras para
justificar a desnacionalização e entrega do petróleo brasileiro ao cartel
internacional, ainda mais corruptos, já que se apoiam também em guerras e no
uso de mercenários para garantir seus interesses em diversas partes do mundo.
Cumprindo nossa missão de fazer o contraponto à narrativa
hegemônica, atuando na guerrilha semiológica, como propôs Umberto Eco, o Blog
dos Desenvolvimentistas segue colhendo e disseminando informações a fim de
retratar o mundo de uma perspectiva que não a dos poderosos, essa já fartamente
propagandeada.
É pra isso que entrevistei mais uma vez Fernando Siqueira,
vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET). Siqueira
defende que se deve investigar cada indício de corrupção, mas que a Petrobras é
vítima dos saqueadores, “e não um antro de corrupção como eles tentam mostrar”.
Ressalta que é uma companhia em melhor situação que as outras cinco grandes
petrolíferas internacionais, lastreada em 84 bilhões de barris, e é justamente
por essa riqueza que é tão atacada.
Confira essa importante entrevista:
Qual a posição da AEPET em relação ao
cartel/propinoduto que saqueou a Petrobras?
Achamos essa prática execrável, que deve ser punida com o
máximo de rigor e prisão de todos os envolvidos. Em todo o Brasil. O ponto
positivo é que a operação lava-jato trouxe as informações necessárias,
inclusive dos corruptores, o que só foi possível com as delações premiadas.
Vimos denunciando em todas as AGO´s (Assembleia Geral Ordinária, anual, dos
acionistas) os indícios da corrupção (por exemplo, a cartelização pela prática
de EPCismo – contratação de obras por pacote fechado – que sistematizou a
cartelização). Mas não dispúnhamos das provas concretas. Sabíamos que o Duque
(segundo dizem, concunhado do Zé Dirceu), o Paulo Roberto, o Barusco tinham
procedimentos suspeitos, mas faltavam as provas. Agora temos a chance de deflagrar
um combate sem tréguas à corrupção. Em todos os segmentos do País. Mas alguns
membros do Ministério Público têm alertado para o risco de impunidade. A
sociedade não pode aceitar um novo Satiagraha, que deu em nada.
A Companhia tem realmente uma grande dívida. Porque tem a
maior carteira de campos de petróleo a serem postos em produção. Portanto é uma
dívida positiva, visto que é uma dívida para investimentos, os quais dão
retorno superior a 80% ao ano. O retorno demora um pouco, mas já temos uma
produção superior a 700 mil barris por dia no pré-sal. E o pré-sal já tem uma
reserva descoberta de cerca de 70 bilhões de barris, que somada aos 14 bilhões
pré-existentes, chegam a 84 bilhões de barris. Portanto, a dívida, além de ser
positiva, tem um grande lastro.
O que explica a grande queda nos preços
das ações da estatal? Em que extensão o escândalo de corrupção influencia nessa
questão?
Há vários fatores. A queda do preço internacional do
petróleo (temporária), a explicitação da nefasta corrupção, além da campanha
sistemática da mídia defensora do capital internacional. Eles querem tirar a
Petrobrás da condição de operadora única do pré-sal, pois isto inibe os dois
focos de corrupção: superdimensionamento dos custos de produção, ressarcidos em
petróleo e a medição fraudulenta da produção. Embora haja corrupção dessas
empreiteiras em todos os segmentos do País, a da Petrobrás foi exacerbada ao
máximo para desmoralizar a empresa. Na realidade a Petrobrás é vítima, e não um
antro de corrupção como eles tentam mostrar. Ela tem 88000 empregados sérios,
honestos e competentes.
Na esteira das revelações do esquema
muitos analistas criticaram o modelo de partilha. Que pensa a AEPET sobre o
atual modelo de exploração?
O modelo de partilha, não é o ideal, faltando, inclusive
fixar o percentual do óleo-lucro que fica com a União. Mas é muito melhor do
que o de concessão que eles defendem. A concessão dá todo o petróleo para quem
produz. Por ela, o Brasil fica com 10% de royalties e cerca de 20% em impostos
– tudo em dinheiro. No mundo, os países exportadores ficam com a média de 80%
do petróleo produzido. Em nossa visão o modelo ideal é a volta do modelo
existente antes da era FHC, previsto no artigo 177 da Constituição Federal de
1988: o Monopólio Estatal do Petróleo, conforme constava na Lei 2004/53. Ou a
contratação por prestação de serviços, como é na Venezuela.
A proposta de retorno do regime de
concessões interessa ao país? Quem ganha e quem perde com este modelo?
O modelo de concessão é pernicioso para o País, é puro
entreguismo, pois conforme dito acima, só favorece as concessionárias
integrantes do cartel internacional, em detrimento do povo brasileiro. Quem
ganha com esse modelo é esse cartel do petróleo e os defensores do modelo, que,
provavelmente, não fazem essa defesa gratuitamente.
A narrativa da grande mídia retrata
nossa estatal como se estivesse à beira da falência. Por quê? Com que
objetivos?
Faz parte da campanha do capital internacional. A Petrobrás,
comparada às cinco grandes companhias petrolíferas internacionais, está muito
melhor que elas. Aumentou suas reservas, aumentou a produção, o faturamento
bruto, enquanto as outras têm indicadores negativos nesses quesitos. Ela ainda
tem 70 bilhões de barris de petróleo descobertos no pré-sal, que fazem dela uma
potência econômica e tecnológica. Aliás, ela poderia estar bem melhor se o
Governo Dilma, por ditames eleitoreiros, não a houvesse obrigado a importar
derivados e revender para suas concorrentes por preços inferiores. Segundo o
Conselheiro Administrativo eleito, Silvio Sinedino, presidente da Aepet, esse
rombo já atingiu a R$ 60 bilhões.
Que postura devem assumir os
brasileiros que valorizam uma Petrobras forte e nacional?
Devem assumir a sua defesa como vítima da corrupção e
combater sem tréguas essa prática. Lembrar que a Companhia é a mais estratégica
do País e que ela pode alavancar o desenvolvimento tecnológico, econômico e
financeiro, gerando empregos, tecnologia e desenvolvimento sustentado. Gosto
sempre de citar a Noruega, que passou de segundo país mais pobre da Europa para
o mais evoluído do Planeta: tem o melhor IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
– de todos por cinco anos consecutivos, o melhor bem-estar social e a segunda
renda per capta do planeta. Por que a Noruega cresceu assim? Porque soube usar
o petróleo que descobriu no Mar do Norte na década de 70. Desenvolveu-se
magistralmente e criou um fundo soberano pós-petróleo, que já chega a US$ 900
bilhões. E nós temos muito mais petróleo do que eles, além de imensas riquezas
fora do ramo petróleo – minérios, biodiversidade, água.
- O petróleo, a Petrobras e a geopolítica: Entrevista com Paulo Metri
- A reaproximação EUA/Cuba é parte da dominação de amplo espectro norte-americana
- Petrobras: Por que a mídia a transformou de símbolo em ‘Geni’?
- O saldo devedor das democracias liberais
- “Davos é apenas mais um instrumento de articulação dos interesses capitalistas”: Entrevista com Flavio Lyra
*Publicado originalmente no Blog dos Desenvolvimentistas, em 20/1/2015
Por Rennan Martins | Vila Velha, 20/01/2015

Charge de Carlos Latuff
Cumprindo nossa missão de fazer o contraponto à narrativa hegemônica, atuando na guerrilha semiológica, como propôs Umberto Eco, o Blog dos Desenvolvimentistas segue colhendo e disseminando informações a fim de retratar o mundo de uma perspectiva que não a dos poderosos, essa já fartamente propagandeada.
É pra isso que entrevistei mais uma vez Fernando Siqueira, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET). Siqueira defende que se deve investigar cada indício de corrupção, mas que a Petrobras é vítima dos saqueadores, “e não um antro de corrupção como eles tentam mostrar”. Ressalta que é uma companhia em melhor situação que as outras cinco grandes petrolíferas internacionais, lastreada em 84 bilhões de barris, e é justamente por essa riqueza que é tão atacada.
Confira essa importante entrevista:
Qual a posição da AEPET em relação ao cartel/propinoduto que saqueou a Petrobras?
Achamos essa prática execrável, que deve ser punida com o máximo de rigor e prisão de todos os envolvidos. Em todo o Brasil. O ponto positivo é que a operação lava-jato trouxe as informações necessárias, inclusive dos corruptores, o que só foi possível com as delações premiadas. Vimos denunciando em todas as AGO´s (Assembleia Geral Ordinária, anual, dos acionistas) os indícios da corrupção (por exemplo, a cartelização pela prática de EPCismo – contratação de obras por pacote fechado – que sistematizou a cartelização). Mas não dispúnhamos das provas concretas. Sabíamos que o Duque (segundo dizem, concunhado do Zé Dirceu), o Paulo Roberto, o Barusco tinham procedimentos suspeitos, mas faltavam as provas. Agora temos a chance de deflagrar um combate sem tréguas à corrupção. Em todos os segmentos do País. Mas alguns membros do Ministério Público têm alertado para o risco de impunidade. A sociedade não pode aceitar um novo Satiagraha, que deu em nada.
Procedem os rumores de que a estatal está atolada em dívidas?
A Companhia tem realmente uma grande dívida. Porque tem a maior carteira de campos de petróleo a serem postos em produção. Portanto é uma dívida positiva, visto que é uma dívida para investimentos, os quais dão retorno superior a 80% ao ano. O retorno demora um pouco, mas já temos uma produção superior a 700 mil barris por dia no pré-sal. E o pré-sal já tem uma reserva descoberta de cerca de 70 bilhões de barris, que somada aos 14 bilhões pré-existentes, chegam a 84 bilhões de barris. Portanto, a dívida, além de ser positiva, tem um grande lastro.
O que explica a grande queda nos preços das ações da estatal? Em que extensão o escândalo de corrupção influencia nessa questão?
Há vários fatores. A queda do preço internacional do petróleo (temporária), a explicitação da nefasta corrupção, além da campanha sistemática da mídia defensora do capital internacional. Eles querem tirar a Petrobrás da condição de operadora única do pré-sal, pois isto inibe os dois focos de corrupção: superdimensionamento dos custos de produção, ressarcidos em petróleo e a medição fraudulenta da produção. Embora haja corrupção dessas empreiteiras em todos os segmentos do País, a da Petrobrás foi exacerbada ao máximo para desmoralizar a empresa. Na realidade a Petrobrás é vítima, e não um antro de corrupção como eles tentam mostrar. Ela tem 88000 empregados sérios, honestos e competentes.
Na esteira das revelações do esquema muitos analistas criticaram o modelo de partilha. Que pensa a AEPET sobre o atual modelo de exploração?
O modelo de partilha, não é o ideal, faltando, inclusive fixar o percentual do óleo-lucro que fica com a União. Mas é muito melhor do que o de concessão que eles defendem. A concessão dá todo o petróleo para quem produz. Por ela, o Brasil fica com 10% de royalties e cerca de 20% em impostos – tudo em dinheiro. No mundo, os países exportadores ficam com a média de 80% do petróleo produzido. Em nossa visão o modelo ideal é a volta do modelo existente antes da era FHC, previsto no artigo 177 da Constituição Federal de 1988: o Monopólio Estatal do Petróleo, conforme constava na Lei 2004/53. Ou a contratação por prestação de serviços, como é na Venezuela.
A proposta de retorno do regime de concessões interessa ao país? Quem ganha e quem perde com este modelo?
O modelo de concessão é pernicioso para o País, é puro entreguismo, pois conforme dito acima, só favorece as concessionárias integrantes do cartel internacional, em detrimento do povo brasileiro. Quem ganha com esse modelo é esse cartel do petróleo e os defensores do modelo, que, provavelmente, não fazem essa defesa gratuitamente.
A narrativa da grande mídia retrata nossa estatal como se estivesse à beira da falência. Por quê? Com que objetivos?
Faz parte da campanha do capital internacional. A Petrobrás, comparada às cinco grandes companhias petrolíferas internacionais, está muito melhor que elas. Aumentou suas reservas, aumentou a produção, o faturamento bruto, enquanto as outras têm indicadores negativos nesses quesitos. Ela ainda tem 70 bilhões de barris de petróleo descobertos no pré-sal, que fazem dela uma potência econômica e tecnológica. Aliás, ela poderia estar bem melhor se o Governo Dilma, por ditames eleitoreiros, não a houvesse obrigado a importar derivados e revender para suas concorrentes por preços inferiores. Segundo o Conselheiro Administrativo eleito, Silvio Sinedino, presidente da Aepet, esse rombo já atingiu a R$ 60 bilhões.
Que postura devem assumir os brasileiros que valorizam uma Petrobras forte e nacional?
Devem assumir a sua defesa como vítima da corrupção e combater sem tréguas essa prática. Lembrar que a Companhia é a mais estratégica do País e que ela pode alavancar o desenvolvimento tecnológico, econômico e financeiro, gerando empregos, tecnologia e desenvolvimento sustentado. Gosto sempre de citar a Noruega, que passou de segundo país mais pobre da Europa para o mais evoluído do Planeta: tem o melhor IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – de todos por cinco anos consecutivos, o melhor bem-estar social e a segunda renda per capta do planeta. Por que a Noruega cresceu assim? Porque soube usar o petróleo que descobriu no Mar do Norte na década de 70. Desenvolveu-se magistralmente e criou um fundo soberano pós-petróleo, que já chega a US$ 900 bilhões. E nós temos muito mais petróleo do que eles, além de imensas riquezas fora do ramo petróleo – minérios, biodiversidade, água.