Sábado, 14
de fevereiro de 2015
Tribuna da
Imprensa
Carlos
Chagas
Com o Carnaval na rua, fica impossível fugir à tentação de
imaginar desfiles para o nosso mundo político. Com as devidas desculpas por
certas irreverências, vale listar personagens e as respectivas fantasias.
Na Comissão de Frente, os presos da Operação Lava Jato,
vestidos de Irmãos Metralha, cada um carregando no mínimo dez máscaras suplementares,
a ser oferecidas aos futuros integrantes da lista do Procurador Geral. Rodrigo
Janot aparece como Torquemada, seguido dos ministros do Supremo Tribunal
Federal, em elegantes batinas Dominicanas, lendo proclamações da Santa
Inquisição.
O desfile não poderia deixar de apresentar, logo depois, a
presidente Dilma, porta-bandeira vestida de Papisa Joana, aquela que não
deveria sentar-se no trono de São Pedro, mas sentou. Como par, o Lula,
fantasiado de Napoleão exilado na ilha de Santa Helena, reconhecendo a
impossibilidade de conquistar outra vez o mundo.
Viriam em seguida José Dirceu e os companheiros condenados
no mensalão, como Piratas da Perna de Pau, com exceção para Antônio
Pallocci, de Pinóquio. Henrique Pizzolato, o Homem da Máscara de Ferro. João
Vaccari Neto, Long John Silver na Ilha do Tesouro. Alberto
Youssef e Paulo Roberto Costa, mascarados como Drácula e Lobisomem, amarrados à
cópia de uma torre de petróleo da qual, de minuto a minuto, jorra uma
substância orgânica não propriamente preta, pois marrom.
BATERIA DOS EMPREITEIROS
Segue-se a Bateria dos Empreiteiros, com os tamborins
vibrando a melodia do “Retorno Dos Que Não Partiram”, em seguida a Polícia
Federal, vestida de Zorro e do Sargento Garcia.
Sucedem-se os Destaques, com o presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, sugerindo a Noite De São Bartolomeu para acabar com seus
adversários. O ministro Aloísio Mercadante como Tiradentes, único responsável
pela conspiração destinada a promover a independência do PT. E o juiz Sérgio
Moro de Estátua da Liberdade, sem necessidade de explicações.
Fernando Henrique Cardoso, à maneira de outros Carnavais,
tirou do baú a fantasia de Ramsés II e Marta Suplicy inaugura o Chapeuzinho
Vermelho. Aécio Neves, de Lobo Mau, e o ministro das Minas e Energia, Eduardo
Braga, de Beduíno do Deserto do Saara.
CENTRAIS SILENCIOSAS
A bateria das Centrais Sindicais desfila silenciosa, com
seus instrumentos em funeral. O bloco dos Pequenos Partidos da Base do Governo
traz Al Capone como patrono. Cada folião leva uma metralhadora a tiracolo. Lá
atrás, distanciado ao máximo do casal que abriu o desfile, vem o
vice-presidente Michel Temer, caracterizado como Café Filho.
Para encerrar, à maneira do saudoso Joãozinho Trinta,
montes de trabalhadores esfarrapados e descalços, entoando o samba-enredo
“Devolvam Nossos Direitos”. Perdido no meio deles, o jurista Ives Gandra
Martins recitando “É Hoje Só, Amanhã Não Tem Mais”.
Na Praça da Apoteose, entre a confraternização de todos, a
Quarta-Feira de Cinzas, iluminada pelo sol da manhã, ouve os clamores da
multidão queixosa: não se fazem mais Carnavais como antigamente…