Terça, 19 de abril de 2016
Da Tribuna da Imprensa
Por Sebastião Nery
O
Centro Edgard Leuenroth, da Universidade Estadual de Campinas, onde
toda a documentação do Ibope está arquivada desde sua fundação, tem
depositada uma documentação do Ibope provando que nas vésperas do golpe
militar de 31 de março de 1964 a popularidade do presidente João Goulart
era de 74%.O levantamento foi feito entre os dias 9 e 26 de março de
1964, incluindo oito capitais brasileiras, atestando que Goulart tinha
74% de apoio dos brasileiros.
(Em
tempo: Dilma Rousseff tem hoje também 70%, mas de impopularidade.
Exatamente o contrario). No Estado de São Paulo, principal base de
combate ao seu governo, 69% dos paulistanos apoiavam Goulart, com a
seguinte distribuição: 15% consideravam a administração “ótima”; 30%
“boa” e 24% “regular”; e 16% entendiam ser um governo “péssimo”.
Durante
35 anos a Pesquisa Ibope, contratada pela Federação do Comércio do
Estado de São Paulo, permaneceu sigilosa, proibida pelos militares de
ser divulgada. A pesquisa atestava também que 59% dos brasileiros
apoiavam as “reformas de base”, seu programa de governo.
Neste
ano de 2016, Lula e Dilma Rousseff buscaram traçar paralelo entre a
situação atual e a crise que levou ao “Golpe de 64” . É um delírio dos
ignorantes da história. A substituição de uma presidente da República
pelo impeachment/, obedecendo a todo o rito constitucional, é um ato
democrático amparado pela Constituição. Acreditar que a ação golpista
contra Goulart tinha na “impopularidade” o seu fundamento é de uma
falsidade gritante. Ao contrário, o ‘pecado’ de Jango foi exatamente a
popularidade de seu governo, determinante para a sua deposição.
Certos
de que Juscelino Kubitschek ganharia as eleições do ano seguinte
(1965), comandantes militares brasileiros e americanos, dominados pelos
interesses dos Estados Unidos, juntaram-se à UDN de Carlos Lacerda e
outros e deram o golpe sem nenhuma reação. Ao contrario do que dizia a
UDN, o povo não tinha armas. E Jango não quis jogar o pais numa guerra
civil e entre militares brasileiros.
CELSO FURTADO
A
defesa dos interesses nacionais e não a corrupção, em tempos de
radicalização da “Guerra Fria”, foi testemunhada e demonstrada por Celso
Furtado na obra autobiográfica “A Fantasia Desfeita” (II tomo, página
253), onde relata episódio insólito. Celso era ministro do Planejamento.
Tramitava no Congresso Nacional, por iniciativa parlamentar, um projeto
de reforma bancária. O ministro da Fazenda San Tiago Dantas recebeu
ultimato do banqueiro americano David Rockefeller:
– “Ou vocês tiram de imediato esse projeto de lei ou mando cortar todas as linhas de crédito que hoje beneficiam o Brasil”.
E continua Celso Furtado:
–
“San Tiago dava a impressão de estar arrasado. Mas longe de esmorecer
continuava a empenhar-se para criar um clima de compreensão nos círculos
de negócios dos Estados Unidos. Se fracassasse na tentativa, as
incertezas cresceriam com respeito ao processo político brasileiro.”
E foi o que aconteceu em 1964: tanques na rua e nós na cadeia.
Isso sim é que é golpe.
DILMA
Domingo
foi diferente: foi um dia de desfile democrático diante das televisões.
Um a um, os 513 deputados foram chamados para darem seus votos,
livremente, abertamente, sem coações partidárias. Salvo um ou outro caso
de partidos que fecharam questão, a imensa maioria votou como quis,
anunciando de viva voz e justificando os votos em pequenos discursos.
Os
números finais atestam o flagrante isolamento do governo, que só
conseguiu 137 votos enquanto a oposição fez 367. Mais de um terço.
LAVA VOTO
A
Operação Lava Jato e o juiz Sergio Moro, alem de tudo que a Nação já
lhes deve, ficaram credores de mais uma: caiu significativamente o nível
de corrupção nas negociações espúrias de compra e venda de votos nos
três palácios: Alvorada, Planalto e GoldenTulip.
Deputados
que entravam lá imaginando saírem com nomeações, empregos e até
“presentes” em dinheiro eram advertidos logo ao chegarem de que ali não
se falava em troca-troca, cambalacho, dinheiro fácil. Era preciso ficar
de olho na Lava Jato. Se alguém fosse flagrado numa operação de Delação
Premiada seria um escândalo sem conserto.
Imaginem
se o santo vigário da Paróquia de Brasília, que ajudava Gim Argello a
limpar o dinheiro sujo das propinas, fosse flagrado com R$ 350 milhões
de “esmola”? Desde que Jesus Cristo fundou a sua igreja há 2 mil anos
jamais se viu uma “esmola” tão generosa.
DESPACHO
A
preocupação do PT no final da noite de sábado era “onde a Dilma vai
despachar” nos próximos meses antes de o processo chegar ao final. Isso
não é mais problema. Ela já foi “despachada” pela Câmara Federal.