Domingo, 14 de janeiro de 2018
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton
No primeiro parágrafo de ‘O 18 Brumário de Luis Bonaparte’, o jornalista e historiador Karl Marx lembra que o filósofo alemão Georg Hegel dizia que os fatos e personagens de grande importância da história do mundo se repetiam duas vezes. Na sequência, Marx então completa o pensamento de Hegel, ao escrever que a história acontece “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Mas na verdade as coisas não são bem assim, No Brasil, por exemplo, a tragédia do publicitário mineiro Marcos Valério está se repetindo com o empresário paranaense Rocha Loures, e desta vez não será como farsa, porque vai ser uma nova tragédia.
Os dois – Valério e Loures – têm pontos em comum, porque ambos são muito ricos e não eram políticos. Em Minas, o publicitário cuidava de sua agência, fazia sucesso em âmbito nacional e a vida lhe sorria. No Paraná, o empresário ajudava o pai a ficar cada vez mais rico e abrir indústria em São Paulo, onde rapidamente se tornou diretor da Fiesp. O erro de Valério e Loures foi o mesmo, ao se envolverem em política.
SEM DELAÇÃO – Confiante no extraordinário poder do PT e na influência de Lula no Judiciário, tendo nomeado vários ministros, inclusive Joaquim Barbosa, relator do processo do Mensalão, o publicitário Marcos Valério relutou em fazer delação premiada. Não se abriu e ganhou a maior pena do mensalão – 40 anos, 4 meses e 6 dias de prisão, com multa de R$ 3 milhões.
Depois, em 2017, Valério pegou mais 18 anos pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha, ao pagar propina a um procurador da Fazenda Nacional para beneficiar os bancos BMG e Rural no conselho que analisa recursos contra punições estipuladas pelo Banco Central.
Se tivesse feito delação, o publicitário já estaria solto há tempos, poderia nem ter havido a segunda condenação, se ele tivesse incluído os crimes em seus depoimentos. Quando se arrependeu e tentou colaborar com a Justiça, já era tarde demais, até hoje a delação está encruada.
O NOVO VALÉRIO – Ingênuo e inexperiente, Rocha Loures está se tornando o novo Marcos Valério. Foi preso pelo crime da mala da JBS, mas só ficou 57 dias na Papuda. O relator Edson Fachin decidiu libertá-lo, porque a Primeira Turma do Supremo havia soltado a irmã, o primo de Aécio Neves e um assessor do senador Zezé Parella. Foi um erro de Fachin, que não deveria ter se curvado à Primeira Turma, pois os dois casos eram muito diferentes.
Enquanto esteve preso, Rocha Loures se recusou a depor. Mais recentemente, em 24 e 27 de dezembro, enfim prestou depoimentos e surpreendeu a força-tarefa, ao negar ter relação de amizade ou profissional com o presidente Michel Temer, embora tenha trabalhado como assessor dele por três oportunidades – uma vez quando Temer era vice-presidente da República e outras duas vezes já na chefia do governo.
MATERIALIDADE – Se não mudar este depoimento e realmente contar o que sabe, Loures estará liquidado. Vai repetir a trajetória de Marcos Valério e ficar preso indefinidamente. O caso de Loures é gravíssimo. Além de ter sido filmado recebendo a mala da JBS, ele depois devolveu o dinheiro à Justiça e ainda completou os R$ 35 mil que faltavam nos R$ 500 mil, que representavam sua comissão de 7%.
Judicialmente, Loures agiu como um retardado. Ao entregar a mala de dinheiro e depois completar os R$ 500 mil, ele deu materialidade ao crime. É como se tivesse virado “réu confesso”. Não tem condições de negar nada. Seu depoimento significa que agiu sozinho em graves crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, numa situação mais grave do que Marcos Valério.
No caso de Loures, além das filmagens e da mala de dinheiro, há grampos telefônicos e depoimentos de empresários que também o incriminam. Seu advogados não têm a menor chance para absolvê-lo. Está antecipadamente condenado a ser uma nova versão de Marcos Valério.