Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Demissão de Segovia foi mais um golpe de mestre da campanha de Temer

Quarta, 28 de fevereiro de 2018
Da Tribuna da Internet

Resultado de imagem para demissao de segovia charges
Charge do Kacio (kacio.art.br)
Carlos Newton
Vivemos novos tempos na política, em que quase tudo é virtual e as aparências são realmente feitas para enganar. A substituição de Fernando Segovia na direção-geral da Polícia Federal é mais um desses roteiros pré-fabricados, que mostram o profissionalismo com que está sendo conduzida a campanha do presidente Michel Temer à reeleição. Quando se pensava que Segovia fosse mais “imexível” do que o ex-ministro Rogério Magri, ele foi defenestrado com a maior tranquilidade, num sensacional golpe de marketing político-eleitoral que nesta terça-feira ofuscou até a entrevista coletiva do general Braga Netto, interventor federal no Rio de Janeiro.

É importante notar a forma como a notícia apareceu. Não houve comunicação oficial. A informação foi “vazada” pelos assessores do Planalto a vários jornalistas, simultaneamente, de uma forma seca, sem maiores detalhes, apenas anunciando que o neoministro Raul Jungmann demitira Segovia e o substituíra por Rogério Galloro. Nem perceberam que isto não poderia ter acontecido, porque Raul Jungmann não está, nunca esteve e jamais estará com esta bola toda, como se diz hoje em dia. O cargo de diretor-geral da PF é tão importante que seu ocupante é escolhido e nomeado pelo presidente da República, conforme aconteceu com Segovia.
NINGUÉM NOTOU – Os jornalistas não perceberam este detalhe e saíram anunciando entusiasticamente o troca-troca na PF, sem maliciar o objetivo do marketing do Planalto. Quem demitiu Segovia não foi Jungmann, seria a Piada do Ano. A decisão foi tomada pelo chamado o núcleo duro do Planalto, que decidiu substituir Segovia com os seguintes propósitos (não necessariamente nesta ordem):
1) Mostrar que Temer não é um político corrupto, está disposto a ser investigado e não tenta se blindar na PF, no Supremo e no foro privilegiado;
2) Simular que Jungmann opera com carta-branca e plenos poderes, um absurdo tão flagrante que o padre Óscar Quevedo logo diria que “non ecziste”;
3) Reforçar a imagem de governo independente e pró-ativo, que se antecipa aos fatos em defesa dos interesses nacionais;
4) Melhorar a popularidade de Temer e elevar o índice de aprovação de sua gestão, para que o presidente se veja “forçado” a aceitar a candidatura à reeleição, por falta de outros candidatos no MDB.
SEIS POR MEIA DÚZIA – Ao substituir Segovia por Galloro, o núcleo duro do Planalto na verdade está trocando seis por meia dúzia. E vai sair levando vantagem, porque o novo (futuro) diretor-geral da PF vai prestar os mesmos serviços de Segovia, com a diferença de ser mais discreto e competente.
A mídia está repleta de matérias elogiando a independência de Galloro, mas é tudo conversa fiada. Há três meses, ele era o nome preferido pelo ministro Torquato Jardim, da Justiça, para substituir Leandro Daiello e colocar um freio na Lava Jato.
Temer desautorizou Jardim e preferiu Segovia, que se mostrou disposto a se arriscar nesta tenebrosa missão de blindar corruptos. Mas deu tudo errado. Segovia é um trapalhão, cujas asneiras inflamaram a PF contra Temer, e agora Galloro vai tentar apagar o incêndio.
###
P.S.  A jogada de marketing político-eleitoral foi magnífica, realmente um golpe espetacular. Mas acontece que o neodiretor Galloro está diante de uma missão impossível. Na PF, o dossiê sobre Temer é cada vez mais substancial e será divulgado em capítulos, nos próximos meses, para destruir seu sonho de permanecer no poder “per saecula saeculorum”, como se dizia antigamente.(C.N.)