Fevereiro
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África Minha
No final do século XIX, as potências coloniais
européias se reuniram, em Berlim, para repartir a África. Foi longa e dura a
luta pelo botim colonial, as selvas, os rios, as montanhas, os solos, os
subsolos, até que as novas fronteiras fossem desenhadas e no dia de hoje de
1885 foi assinada, “em nome de Deus Todo-Poderoso”, a Ata Geral.
Os amos europeus tiveram o bom gosto de não
mencionar o ouro, os diamantes, o marfim, o petróleo, a borracha, o estanho, o
cacau, o café, e óleo de palmeira, proibiram que a escravidão fosse chamada
pelo seu nome, chamaram de sociedades filantrópicas as empresas que
proporcionavam carne humana ao mercado mundial. Avisaram que atuavam movidos
pelo desejo de favorecer o desenvolvimento do comércio e da Civilização, e,
caso houvesse alguma dúvida, explicava, que atuavam preocupados em aumentar o
bem-estar moral e material das populações indígenas.
Assim a Europa inventou o novo mapa da África.
Nenhum africano compareceu, nem como enfeite, a essa reunião de cúpula.
(Eduardo Galeano, no livro ‘Os
filhos dos Dias’. L&PM Editores, 2012, pág. 74.)