Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Os donos do crédito no Brasil

Terça, 27 de fevereiro de 2018
Do Jornal do Brasil
Gilberto Menezes Côrtes

Apenas seis famílias estão entre os controladores dos quatro maiores bancos privados do país que lucraram R$ 53,9 bilhões em 2017. Foi um crescimento superior a 10%, num ano em que a economia cresceu pouco mais de 1%. O crescimento dos lucros dos bancos, turbinados pela concentração bancária e a prática dos juros mais elevados do mundo acirrou a concentração de renda no Brasil. 
Maior banco do país, o Itaú, controlado pelas famílias Setúbal, Villela e Moreira Salles teve ganho de R$ 24,9 bilhões no ano passado, com alta de 10,7%. No Bradesco, que tem entre os acionistas Denise Aguiar Alvarez, neta do fundador Amador Aguiar, o lucro de R$ 14,65 bilhões cresceu 11,9% sobre 2016. A maior expansão, de 44,5%, foi do espanhol Santander, controlado por Ana Botin. O Safra, de Joseph Safra, um dos brasileiros mais ricos do mundo, ganhou mais 13% (R$ 1,9 bilhão).
 

No Brasil, os juros pagos aos investidores e depositantes em cadernetas de poupança (a taxa Selic) e a inflação descem pelo elevador. Sob o efeito da supersafra de alimentos, a inflação anual baixou de 10,7% em fins de 2015 para 2,86% em janeiro de 2018. Já a taxa Selic baixou 28,9%. Mas os juros bancários parecem descer vagarosamente pela escada. De acordo com o Banco Central, a baixa dos juros médios dos bancos se reduziu em apenas 22,8% no ano passado. 
Essa dinâmica foi altamente perversa para as famílias brasileiras, que, sob a pressão combinada da recessão, com o desemprego e os juros elevados tiveram encolhimento de 7,6% na renda. O cenário desigual agravou o comprometimento da renda com dívidas bancárias, que atingiu 60,8% em 2017, de acordo com estudos da Confederação Nacional do Comércio (CNC). A parcela de famílias com contas ou dívidas em atraso aumentou atingiu 25,4% em 2017, com aumento frente aos 24,2% de 2016

Cartão de crédito é o pesadelo das famílias 
Os dados são do Banco Central. Em 2017, os juros dos cartões de crédito, que tiram o sono das famílias brasileiras, fecharam o ano em 240,7% ao ano. Mas quem estava pendurado e caiu na armadilha do crédito pessoal não consignadoarrumou corda para se enforcar. Embora a média das taxas apuradas pelo BC tenha sido de 113,3% em dezembro de 2017. Na primeira semana de fevereiro houve casos de taxas escandalosas. O Banco Daycoval, cobrava juros de 1.054% ao ano. Uma das campeãs em anúncios na mídia, a financeira Crefisa, patrocinadora do Palmeiras, tinha a terceira maior taxa de juros do país: 708,73% ao ano. 
Mesmo com o grau de comprometido da renda dos brasileiros em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) muito inferior à média mundial, o que coloca o país na 40% posição conforme levantamento do BIS (o Banco Central dos Bancos Centrais), quando se trata de comparar a relação entre os custos das amortizações das dívidas com o tamanho da renda, o Brasil salta para a 11ª posição. O que é explicado pela baixa renda per capita dos brasileiros, de um lado, e as altas taxas de juros bancárias, de outro. 
Ainda segundo o o Banco Central, no crédito às famílias, a taxa de juros fechou 2017 com o nível médio de 31,9% ao ano. Uma taxa mais de dez vezes superior à taxa anual de inflação, de 2,9%. Uma comparação entre a taxa média de captação dos bancos e a taxa média dos empréstimos, o chamado spread bancário aponta desnível de 18,9 pontos favorável aos bancos.  
Os lucros dos bancos são ainda engordados pelos R$ 27 bilhões arrecadados no ano passado em tarifas bancárias e nas taxas de administração cobradas na gestão dos recursos geridos pelo sistema bancário (fundos de renda fixa e DIs, fundos de ações, e os fundos de pensão e de previdência). Esta é a área na qual os bancos mais vêm sofrendo concorrência das instituições não bancárias, como fintechs e cooperativas de crédito. A perda diária era de R$ 5 milhões para o sistema. Acossado pela concorrência da XP Investimentos, que não cobrava taxa de administração na gestão de recursos, o maior banco do país comprou 49% do capital da XP. O diretor de XP, Edgar da Costa Ramos, confirmou, porém que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) para evitar maior concentração, obrigou o Itaú a manter a isenção de cobrança.