Terça, 27 de fevereiro de 2018
Quando
Quando
estava descendo pela escada em caracol de um navio, pensou que bem que podia
ser que as moléculas das proteínas viajassem daquele jeito, em espiral e sobre
solo ondulado; e isso acabou virando um achado científico.
Quando
descobriu que os automóveis tinham a culpa do muito que ele tossia na cidade de
Los Angeles, inventou o automóvel elétrico, que foi um fracasso comercial.
Quando
ficou doente dos rins, e viu que os remédios não adiantavam nada, se receitou
comida saudável e bombardeios de vitamina C. E se curou.
Quando
explodiram as bombas em Hiroshima e Nagasaki, foi convidado para dar uma
conferência científica em Hollywood, e quando percebeu que não havia dito o que
queria dizer, passou a encabeçar a campanha mundial contra as armas nucleares.
Quando
recebeu o prêmio Nobel pela segunda vez, a revista Life disse que aquilo era um
insulto. Em duas ocasiões o governo dos Estados Unidos já o havia deixado sem
passaporte, porque era suspeito de simpatias comunistas, ou porque havia dito
que Deus era uma ideia não necessária.
Ele
se chamava Linus Pauling. Nasceu enquanto nascia o século XX.
(Eduardo Galeano, no livro ‘Os filhos
dos Dias’. L&PM Editores, 2012, pág. 76)