Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Não cair na armadilha inimiga para sobreviver

Quarta, 28 de fevereiro de 2018
Por Pedro Augusto Pinho*


Desde o absolutismo monárquico, já com os denominados déspotas esclarecidos, que os governantes passaram a ter, por necessidade, um projeto geral de Estado para governarem.

Antes o Estado e a família se misturavam e era possível só dar respostas aos problemas no momento que surgiam. As consequências não passavam dos círculos familiares. A evolução da sociedade exigiu um programa para que as soluções não se contradissessem, não se eliminassem umas a outras. Os relacionamentos sociais mais amplos trouxeram, entre outras, estas imposições.
O “governo” golpista de Temer nos assusta e surpreende pela ação absolutista. Há um alheamento da sociedade que só me vem a imagem do período medieval, onde o povo cuidava de seu dia a dia sem outra preocupação que não fosse a sobrevivência física e a salvação da alma.

Esta regressão, ainda não consciente na sociedade, é uma das construções do sistema financeiro internacional (a banca) e já se observa, por exemplo, na Líbia.

A Líbia, para quem verdadeiramente a conheceu e não pelas construções midiáticas internacionais a serviço dos interesses da banca, era um país em pleno desenvolvimento, o de mais alta avaliação conforme Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), na África, que executou um projeto de captação e transferência de água, pelo deserto, que deu vida com qualidade a milhares de líbios, que usava os recursos do petróleo para o País.

Os que conhecem a apropriação das receitas nas transações internacionais e acompanharam a decisão de Nixon, em 15 de agosto de 1971, sabem que o dólar, como única moeda para os negócios do petróleo, foi previamente acordado entre os Estados Unidos da América (EUA) e as monarquias árabes, as maiores produtoras e detentoras, à época, de reservas de petróleo. Entre elas a Líbia, então governada pelo Rei Idris I.

O coronel Muammar Mohammed Abu Minyar al-Gaddafi havia comunicado, pouco antes da invasão de 19 de março de 2011, que o petróleo líbio seria vendido pela moeda que desse melhor rendimento ao seu país, e indicou o euro.

O incrível da subserviência de Estados Nacionais à banca é que França, em princípio beneficiada com o uso do euro nas transações do petróleo, participou desta invasão, com suas Forças Armadas.

Hoje a Líbia é uma terra de ninguém, as pequenas tribos, as dispersas famílias vivem o dia a dia da sobrevivência. Ignoram sua nacionalidade, mas que nacionalidade, se não existe mais o país, a nação chamada Grande Jamahira Árabe Popular Socialista da Líbia?

Temer e seus asseclas vem transformando o Brasil numa Líbia atual.

O lúcido e corajoso Senador Roberto Requião, em discurso recente, afirmou: “essas elites não percebem que o pau que dá em Chico, dá em Francisco; que o cipó que a compraz, quando vergasta o lombo do trabalhador, também açoita as suas ilustres ilhargas, quando a luta de classes global a atinge, contrapondo os seus interesses aos interesses imperiais”.

Estes que pediram e mantém Temer estarão, como todos os brasileiros e os líbios, lutando pela sobrevivência num país que o petróleo não é dele, sem indústrias, sem infraestruturas, sem governo nacional.

Medidas isoladas, com a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro, não terão maiores resultados do que um analgésico para um grave problema na coluna. Simples efeito anestésico de um mal que permanece.

Os governos nacionais, interessados com a manutenção e o progresso de seu País, tem um plano global de ação; um programa para cada área de atividade; um responsável para cada fase. E todos unidos pela mesma filosofia, seja ela qual for. Diante de uma emergência, a solução estará desenvolvida em harmonia com o projeto de País. Este é o Estado que se formou a partir do século XVIII e época à qual a banca, por seu feitor, Michel Temer, nos faz retroceder.

Nosso grande inimigo, neste momento, são os veículos de comunicação de massa, principalmente as redes comerciais de televisão. Como reconheceu o pouco iluminado primeiro mandatário, a decisão da intervenção fluminense veio de um programa de televisão. Meu Deus! Quanta mediocridade! Quanta ignorância governa o Brasil em todos os poderes constitucionais!

As oposições que, finalmente, parecem querer dialogar, devem continuar juntas e elaborarem, para submeter à sociedade, um projeto completo de Nação. Será o grande diferencial que a marcará desta calhordice onde estamos submersos.

Sem verdades, sem imposições, sem qualquer objetivo que não seja a de colaborar, com a vivência da velhice, diria que este projeto, no global, é simples e compreensível por todos: defesa da soberania e da cidadania brasileiras.

Por soberania teríamos o fortalecimento das Forças Armadas (FFAA) dentro de suas funções da defesa nacional, o desenvolvimento das tecnologias que nos dessem autonomia decisória – citaria as mais relevantes deste século: energética, nuclear, informática e aeroespacial. Para estas teríamos não só a pesquisa e desenvolvimento próprios, como a construção e fabricação de todos os equipamentos, usinas, materiais, instalações sob absoluto controle nacional – e também o reerguimento da empresa nacional de propriedade de brasileiros, no campo, na indústria, na logística, no transporte, na construção, nos serviços. Na soberania estaria presente, e é importantíssimo, o controle estatal das finanças nacionais. Não digo a estatização dos bancos (poderia ser uma decisão política do País) mas um Departamento de Estado que fizesse o que o Banco Central não faz, defender nossa moeda como parte da soberania e do desenvolvimento integral do Brasil.

Pela cidadania daríamos não apenas a indispensável condição de existência aos nacionais (emprego, saúde, moradia, segurança social e segurança pública, transporte e renda para os necessitados), como a consciência, o saber-se sujeito e respeitar todos os humanos, e a possibilidade de falar, vocalizar seus desejos, suas objeções, suas verdades. Para tanto, a reforma institucional será imperiosa.

E tudo com ética, a consciência do humano, do respeito que a banca jamais terá pela humanidade. A paz é parte desta ética.

*Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado

Fonte: Tribuna da Imprensa Sindical