Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Reacionarismo do Estado brasileiro renasceu das cinzas graças ao PT, avalia Plínio de Arruda Sampaio Jr.

Quarta, 21 de fevereiro de 2018
Do Blogue Náufrago da Utopia
Por Celso Lungaretti

Toque do editor
Com indesculpável atraso, acabo de tomar conhecimento do artigo Lula e Dilma: insuficientes ou desastrosos?, publicado há cinco semanas no vibrante Correio da Cidadania (clique aqui para acessar o texto integral).

Os primeiros parágrafos ficaram um tanto prejudicados, mas o trecho final continua dos mais atuais e é uma ótima análise do ciclo petista na presidência da República, daí eu o estar publicando abaixo e o recomendando sem restrições.

Ademais, este post serve também para reavivar as lembranças do saudoso companheiro Plínio de Arruda Sampaio, um imprescindível que nos está fazendo imensa falta nestes tristes tempos presentes.

É gratificante constatar que seu filho, professor do Instituto de Economia da Unicamp, continua representando dignamente a família no bom combate, pois o trava com o mesmo espírito combativo e brilhantismo intelectual.

"Quando visto da perspectiva de seus efeitos de longo prazo sobre a formação nacional e sobre os interesses estratégicos da classe trabalhadora, o problema dos governos petistas não é ter sido insuficiente, mas sim ter sido desastroso. O saldo ocorre em todas as dimensões da vida nacional – econômica, social, política, administrativa, moral e ideológica –, mas três são fatais:

a) ao aprofundar a desindustrialização, revitalizar o 
Plínio Jr.: "Ovo da serpente foi chocado pelo PT"
latifúndio, intensificar a vulnerabilidade externa e fragilizar as finanças públicas, os governos de Lula e Dilma deixaram a economia brasileira particularmente exposta aos impactos destrutivos da crise internacional e extraordinariamente impotente diante das pressões predatórias do grande capital. Não à toa, o famigerado neo-desenvolvimentismo terminou no ajuste neoliberal de Levy e Meirelles; 

b) ao levar ao paroxismo o princípio das alianças espúrias como forma de garantia da governabilidade, o lulismo anulou-se como força reformista e comprometeu toda e qualquer possibilidade de enfrentar o entulho autoritário da ditadura militar e avançar, ainda que minimamente, no combate às estruturas econômicas, sociais e culturais que perpetuam as desigualdades sociais. A cumplicidade com o grande capital e com as oligarquias tradicionais permitiu que o reacionarismo latente no Estado brasileiro renascesse das cinzas, recolocando no cenário brasileiro o espectro dos capitães de mato como guardiões da ordem. O ovo da serpente foi chocado por Lula e Dilma nos palácios de Brasília;

c) por fim, ao subordinar os sindicatos e movimentos sociais à razão de Estado, criminalizar a luta social, desmobilizar as massas e estimular a ideologia do individualismo e da concorrência, os governos petistas deixaram a classe trabalhadora completamente desarmada para enfrentar o novo ciclo de ataques do capital. É o comprometimento da capacidade de luta dos trabalhadores que explica o avanço avassalador do capital sobre seus direitos.


A deposição do governo Dilma não foi aproveitada para uma correção de rumo. Na oposição, Lula e Dilma comportam-se responsavelmente, aceitando docilmente nas novas regras do jogo político e fazendo uma resistência protocolar ao ajuste econômico. Os vínculos do PT com o capital são profundos e orgânicos. O lulismo está bem mais perto dos golpistas e do grande capital do que da esquerda socialista e dos trabalhadores."