Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Uma lição de realismo da imprensa


Fevereiro
24

Uma lição de realismo

Em 1815, Napoleão Bonaparte fugiu de sua prisão na ilha de Elba e fez a viagem de reconquista do trono da França.
Marchava passo a passo, acompanhado por uma tropa crescente, enquanto o jornal Le Moniteur Universel, que havia sido seu órgão oficial, assegurava que os franceses estavam loucos de vontade de morrer defendendo o rei Luís XVIII, e chamava Napoleão de violador à mão armada do solo da pátria, estrangeiro fora da lei, usurpador, traidor, praga, chefe de bandoleiros, inimigo da França que ousa sujar o solo do qual foi expulso, e anunciava: Este será seu último ato de loucura.
No final o rei fugiu, ninguém morreu por ele, e Napoleão sentou-se no trono sem disparar um único tiro.
Então o mesmo jornal passou a informar que a feliz notícia da entrada de Napoleão na capital provocou uma explosão súbita e unânime, todo mundo se abraça, os vivas ao Imperador enchem o ar, em todo os olhos há lágrimas de alegria, todos celebram o regresso do herói da França e prometem à Sua Majestade o Imperador a mais profunda submissão.

Eduardo Galeano, no livro ‘Os filhos dos dias’. L&PM Editores. 2ª ed., folha 72.