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(Millôr Fernandes)

domingo, 24 de outubro de 2021

11 DE SETEMBRO, VINTE ANOS DO ENGODO QUE ENREDOU O MUNDO

 Domingo, 24 de setembro de 2021

Pedro Augusto Pinho*

11 DE SETEMBRO, VINTE ANOS DO ENGODO QUE ENREDOU O MUNDO

 

A farsa do 11 de setembro e os trágicos eventos por ele suscitados deveriam abrir nossos olhos para entender melhor o mundo. Porém, sem medo de errar, perguntaria quem, fora do Instituto Rio Branco e das universidades públicas, relacionaria os países, com as capitais, que constituem a Ásia Central.


No entanto, a Ásia Central e seu entorno foram sorvedouros de vítimas humanas, estadunidenses e locais, recursos financeiros, materiais, tecnológicos dos Estados Unidos da América (EUA) e europeus nos últimos 30 anos.


A Ásia, tão pouco conhecida pelos brasileiros, é o continente onde os EUA mais colecionam derrotas: Coreia, Vietnã, Quirguistão, Afeganistão, Paquistão, Laos e Camboja. Isso para não incluir o Timor Leste (1999 a 2001) e a Filipinas (Operação Liberdade Duradoura (!), em 2002).


Desde 1990, quando as finanças internacionais passam a dominar o mundo ocidental e influenciar o oriental, os EUA atuam de duas maneiras.


(a) Como o império que se formou desde o final do século XIX, agindo conforme os interesses geopolíticos, econômicos e culturais da elite dominante naquele país. E (b) como feitor das finanças internacionais. Neste segundo aspecto é necessário distinguir as finanças até 1990 e as posteriores a 1990.


Denomino banca aos capitais construídos pela dominação europeia e estadunidense ao longo dos séculos. É um capital que explora os continentes e as populações, inclusive de seus próprios países, ainda que, para estas, retribua com padrão de vida e expectativas de futuro mais confortáveis e positivos.


Após as desregulações financeiras ocorridas nos anos 1980, houve a participação crescente de capitais marginais, oriundos das drogas, contrabandos, tráfico humano, generalizada corrupção, no conjunto dos capitais financeiros internacionais. Denomino a esta nova fase gestores de ativos, pois estes capitais passam a residir em paraísos fiscais - que decuplicam a partir de 1990 -, e a adquirir participações em todos os negócios. Se verificarmos os maiores acionistas das grandes empresas multinacionais, em todos os segmentos de negócio, encontraremos estes fundos, gestores de ativos, cujos maiores, com mais de dois trilhões de dólares estadunidenses, são: BlackRock, Vanguard, UBS (suíço), Fidelity, State Street Global Advisor (SSgA), Allianz (alemão), JP Morgan, Goldman Sachs, Bank of New York e PIMCO. Próximos a estes, com pouco menos trilhões, e dados também de 2020, estão o francês Amunde e o norueguês Norge Bank.


Então, somente como exemplo, o governo Bush (George W.), seu secretário Andy Card, o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Richard Myers, o vice-presidente Dick Cheney, entre tantos outros atores (autores?) do 11 de setembro, inclusive os espiões e agentes golpistas dos “five eyes” (Reino Unido, EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia), atuando primordialmente na Ásia, se articularam para abrir ainda mais espaços para o sistema financeiro. Agora tendo as drogas como principal objetivo. E toda morte e desgraças serão poucas para seu enriquecimento e aceleração desta concentração de renda.


Um pouco de geografia e de história.


A Ásia Central ocupa quatro milhões de km², com a população de 75 milhões de habitantes (2020), em área de estepes, montanhas e planaltos. Composta por cinco países (com as capitais): Cazaquistão (Nur-Sultã), de maior extensão, 2 milhões e 725 mil km², população 18,75 milhões de habitantes; Uzbequistão (Tashkente), o mais populoso com 34,23 milhões de habitantes, e 447 mil km²; Turcomenistão (Asgabate), o menos populoso, 6,03 milhões de habitantes e 491 mil km²; Tadjiquistão (Duxambé) com 9,54 milhões de habitantes e 143 mil km²; e Quirguistão (Bisqueque) com 6,59 milhões de habitantes e 198 mil km².


Apenas sob o domínio mongol (século XIII) a Ásia Central constituiu uma unidade administrativa. No período de governos socialistas soviéticos eram repúblicas da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e após a dissolução da URSS (1991) passaram a integrar a Comunidade de Estados Independentes (CEI), com a Federação Russa (Moscou), Bielorrússia (Minsk), Ucrânia (Kiev), Armênia (Yerevan), Geórgia (Tiblissi), Azerbaijão (Baku) e Moldávia (Chixinau).


A Ásia Central é rica em combustíveis fósseis, em todos os países há petróleo e gás natural ou carvão, quando não ambos, como no Cazaquistão. Também é o caminho da Rota da Seda, conectando o Extremo Oriente ao Oriente Médio.


O Afeganistão e o Paquistão, além do Irã são a fronteira sul, e a China, a fronteira leste, ficando a Rússia no restante entorno.


Assim, para domínio da Ásia Central, os EUA, quer como interesse do Império quer como feitores dos gestores de ativo, buscaram estabelecer um ponto de ataque no Afeganistão, desde 1990, o que explica a invasão de 1998 e a guerra de 2001, logo ampliada (2004 a 2006) para o Paquistão.


Mas os pretextos imperialistas econômicos, quer para acesso e domínio de matérias primas, quer para ampliação do mercado consumidor, quer mesmo para exportação de capitais excedentes, não encontravam mais receptividade, quando a “globalização” e o “neoliberalismo” vendiam a ideia de liberdade, de igualdade competitiva, integração produtiva, segurança jurídica no pós Consenso de Washington (1989). Era necessário um choque, a mundialização do medo, para que medidas restritivas pudessem ser aplicadas pelas forças hegemônicas, em todo e qualquer lugar. E assim foi-se construindo um “terrorismo muçulmano”, que não encontrava exemplo no Corão nem na dominação mediterrânea do islamismo.


Os EUA, denunciados nas análises de Thierry Meyssan hoje fartamente comprovadas, empreenderam a autoagressão, profundamente midiatizada, do ataque às torres gêmeas, na realidade “trigêmeas”, de 11 de setembro. Seria o caminho para dominar as portas da Ásia Central, cuja estreita vinculação com a Rússia e o interesse da expansão comercial chinesa criavam dificuldades consideradas intransponíveis.


No entanto, quem eram os “temíveis” talibãs? Estudantes sunitas, da etnia pastós, que representam mais da metade da população afegã. Na etnia hazares (20%) se encontram os xiitas. Os demais habitantes, quase todos muçulmanos (99%), provêm de etnias vizinhas, em especial: tajiques e uzbeques.


Retiro de Meyssan a descrição dos talibãs (Thierry Meyssan, 11 de setembro: uma terrível farsa, tradução de Khristine Renata da Cruz Guimarães do original de 2002 para Usina do Livro, SP, 2003):“os talibãs são sunitas que professam a volta ao Islã primitivo”.


Como radicais religiosos, ficaram muito incomodados com o período em que os socialistas afegãos governaram o país (1978-1992) e moveram-lhes sistemática oposição. Eram um laicismo socialmente avançado (igualdade de gênero, por exemplo) contra uma religiosidade quase medieval. Os EUA, no entanto, apenas enxergaram o antissovietismo e armaram e financiaram os talibãs que, com o fim da URSS, perdendo os governantes o apoio soviético, tornaram-se vencedores e tomaram conta do país.


Não esquecer que os talibãs além de maioria étnica (pastós) eram também a principal corrente islâmica (sunitas) do país.

Ao invadir o Afeganistão, os EUA estavam combatendo toda população do país, o que jamais lhes permitiria a vitória sem a eliminação total. A farsa do 11 de setembro acabou por ser um feitiço contra o feiticeiro? Não pensamos assim.


É preciso entender o sentido absolutamente anti-humano do neoliberalismo financeiro, excludente, concentrador de renda, incompatível com a democracia, com a liberdade de opinião e de manifestação. E, ainda mais, quando são recursos financeiros de atividades também contrárias à humanidade, como a distribuição/difusão de drogas, escravidão e prostituição de pessoas, independente de sexo e idade, contrabando de órgãos humanos, de armas e outras agressões a todos nós, humanos.

O Afeganistão é grande produtor de ópio, há estatísticas que imputam àquele país 90% do fornecimento da heroína consumida na Europa. E, como consequência, há um serviço de lavagem de dinheiro correndo pelo Afeganistão e países vizinhos.


A vida ficou mais difícil para estrangeiros, imigrantes que residem nos EUA, depois dos atentados em 2001. Mas os próprios estadunidenses tiveram que conviver com os “Atos Patrióticos”.


Em entrevista à CNN (11/09/2021), o professor Gunther Rudzit, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e professor colaborador da Universidade da Força Aérea (UNIFA), aponta a reorganização do setor de inteligência como a mudança mais significativa para os americanos.


“Um ponto importante foi a reorganização da inteligência, o Homeland Security Office (Departamento de Segurança Interna), que teve esse papel fundamental de reunir literalmente todo mundo em um prédio para ter a troca de informações mais efetiva”, explicou, ainda, que outras medidas tomadas pelos EUA, incluindo atos legislativos, permitiram a captação de informações de todas as pessoas, no país.

“Foi mudança gigantesca para o americano médio. Até antes do 11 de setembro, a polícia não podia ao menos revistar pessoas na rua se não houvesse motivo. Dois meses depois do atentado, foi aprovado o Ato Patriótico, a legislação que deu a possibilidade de o governo captar e guardar dados de todas as pessoas, ou seja, ligações telefônicas e trocas de mensagens, por qualquer meio de comunicação”. E estas medidas se espalharam, devidamente aculturadas, por todo mundo.


Retrocesso que também estamos sentindo no Brasil. E não vemos no horizonte o fim destes neoliberais tremendamente evangélicos, os “neotalibãs” desta banda do sul, debaixo do céu de anil.


Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.


*Fonte: Monitor Mercantil