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(Millôr Fernandes)

sábado, 16 de outubro de 2021

Estudo detecta "pandemia dos não vacinados" no Brasil, como aconteceu nos EUA e em Israel

Sábado, 16 de outubro de 2021

Vacinação de adolescentes em Salvador (BA); desafio do Brasil é aumentar o alcance da imunização - ©André Carvalho/Smed/Fotos Públicas

Enquanto Bolsonaro reafirma que não vai se vacinar, novos dados mostram que não imunizados são maioria de casos e mortes

Brasil de Fato
Nara Lacerda —16 de Outubro de 2021

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É difícil aceitar que a nossa maior autoridade política descredibiliza o que temos de mais concreto.

A maior parte das internações e mortes por covid-19 registradas atualmente ocorrem entre pessoas que não tomaram a vacina. A constatação vem sendo corroborada por entidades da saúde e da ciência do mundo todo. Na semana que se encerra neste sábado (16), mais um estudo — dessa vez no Brasil — endossou a percepção.

De acordo com dados reunidos pelo Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, nove entre cada dez pacientes em internação por covid nos últimos meses não receberam o imunizante. As pessoas não vacinadas têm 14 vezes mais chances de morrer por causa da doença.


Não é a primeira vez que conclusões semelhantes são apresentadas. Os governos de Israel e Estados Unidos (EUA), por exemplo, vêm alertando há meses sobre a chamada "pandemia de não vacinados". Em algumas regiões quase todos os casos de internação registrados são de pessoas que não passaram pela imunização.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA divulgou uma pesquisa de grandes proporções, em que 600 mil pessoas foram acompanhadas. Os resultados indicam que quem não tomou a vacina tem dez vezes mais possibilidade de precisar de internação.

Em agosto, uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), por meio da plataforma InfoTracker, indicava que 96% dos casos de internados e internadas ocorreram entre pessoas que não tinham o esquema vacinal em dia.

A médica Fernanda Americano Freitas Silva, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que o controle da pandemia esbarra no número de pessoas que ainda não tomaram a vacina.

Ela lembra que a Fundação Oswaldo Cruz, por meio do boletim Infogripe, relata que é preciso vacinar pelo menos 80% de toda a população brasileira para controlar a pandemia. "Por mais que estejamos em um momento melhor, ainda temos um caminho a trilhar", pontua a médica.

Segundo Fernanda, os números diários atuais no Brasil ainda devem preocupar "Eles demonstram a permanência da transmissão e a incidência de casos graves, que exigem cuidados intensivos e ainda podem gerar milhares de mortes nos próximos meses", alerta.

Bolsonaro do contra

A preocupação com o controle da pandemia por meio do avanço da vacinação foi o principal tema do novo relatório conjunto da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Divulgado na última quinta-feira (14), o documento faz um apelo aos governos da região para que acelerem a imunização. Esse é um dos focos considerados prioritários para controlar a crise de saúde no curto prazo.

“Junto com as fragilidades estruturais dos sistemas de saúde para enfrentar a pandemia, o prolongamento da crise sanitária está intimamente relacionado ao lento e desigual andamento dos processos de vacinação na região e às dificuldades dos países em manter as medidas sociais e de saúde pública nos níveis adequados”, diz o relatório.

No Brasil, dias antes, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que não pretende se vacinar. Em entrevista a uma emissora de rádio apoiadora do governo ele mentiu ao dizer que não precisa da vacina porque já foi infectado pelo coronavírus.


Pessoas que já foram contaminadas não estão protegidas contra a doença, o que já é comprovado por estudos científicos no mundo todo. A proteção oferecida pela vacina é a única forma de controle da pandemia.

As declarações de Bolsonaro foram feitas dias antes de o Brasil chegar à marca de mais de 600 mil óbitos por covid. A médica Fernanda Americano considera a postura do presidente "lamentável". Segundo ela, o chefe de Estado presta "mais uma vez um desserviço" à população brasileira com a postura.

"É difícil aceitar que a nossa maior autoridade política descredibiliza o que temos de mais concreto no combate à pandemia, que é a vacinação em massa. Bolsonaro deveria ser exemplo, mas como vimos desde o início, ele segue no discurso do caos e da morte", finaliza Fernanda.

Edição: Vinícius Segalla