Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

A vontade de beleza

A vontade de beleza

O presidente da Sociedade Espanhola de História Natural determinou, em 1886, que as pinturas da caverna de Altamira não tinham milhares de anos de idade:

– São obra de algum discípulo mediano da escola moderna atual – afirmou, confirmando as suspeitas de quase todos os especialistas.

Vinte anos mais tarde, os tais especialistas tiveram que reconhecer que estavam enganados. E assim ficou demonstrado que a vontade de beleza, como a fome, como o desejo, havia acompanhado desde sempre a aventura humana no mundo.

Muito antes disso que chamamos de Civilização, havíamos transformado em flautas os ossos das aves, havíamos perfurado os caracóis para fazer colares e havíamos criado cores misturando terra, sangue, pó de pedras e sucos de plantas, para alindar nossas cavernas e para que cada corpo fosse um quadro caminhante.

Quando os conquistadores espanhóis chegaram a Veracruz, viram que os índios huastecos andavam completamente nus, elas e eles, com os corpos pintados para agradar e se agradar:

– Esses são os piores —sentenciou o conquistador Bernal Díaz del Castillo.


(Eduardo Galeano, no livro Os Filhos dos Dias,
2ª Edição, 2012, pág. 383, L&PM Editores)
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Conheça mais um pouco sobre a 

Caverna de Altamira