Segunda, 25 de junho de 201
Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
O relatório apresentado pelo senador Humberto Costa
(PT-PE), no qual pede a cassação do mandato do senador Demóstenes Torres
(sem partido-GO), diz que o parlamentar mentiu ao Conselho de Ética
sobre a sua relação com o empresário goiano Carlos Augusto de Almeida
Ramos, o Carlinhos Cachoeira. "É simplesmente inacreditável que o
Representado, considerados todos esses prolegômenos, venha sustentar que
ignorava tudo sobre os “afazeres ocultos” de Cachoeira; que tenha
respondido candidamente ao Senador Mário Couto que não sabia que
Cachoeira era contraventor", disse. "Cachoeira é o verdadeiro anjo da
guarda de um senador da República", destacou o relator.
Costa relembra que Demóstenes, durante seu depoimento, disse que não
sabia que Cachoeira, investigado pela Polícia Federal, era contraventor.
O relatório está sendo apresentado neste momento ao Conselho de Ética
do Senado que deverá votar ainda hoje (25) o pedido de cassação do
mandato do senador.
Ao alegar a participação do senador no esquema de lavagem de dinheiro
operado por Cachoeira, Costa relata que Demóstenes agia como um
"despachante” de Cachoeira. "Coligidos, concluo que, no que diz respeito
a capitais de Cachoeira já integrados, é evidente a atuação do Senador
Demóstenes Torres como um despachante de luxo do contraventor".
"A instrução probatória carreou a estes autos um grande número de
evidências das ações do Senador Demóstenes Torres em favor direto dos
interesses “comerciais” de Carlinhos Cachoeira", completou.
Costa relata ainda que "as atuações na área de construção civil,
construção pesada, prestação de serviços urbanos e licenciamento
ambiental já estão sendo escrutinadas pela Comissão Mista Parlamentar de
Inquérito (CPMI) do Cachoeira”. Segundo o relator, em todos os casos,
duas certezas: a) um parlamentar a valer-se do seu inegável prestígio
para viabilizar interesses econômicos do “contraventor”; b) uma teia de
ligações, consórcios, parcerias, sociedades e associações empresariais
em que se pode averiguar a conhecida técnica de commingling [mescla] para obstaculização de qualquer investigação sobre o paper trail".
Costa também apontou o envolvimento de Demóstenes com os negócios de
Carlinhos Cachoeira na exploração de jogos de azar e ainda atuado na
proteção de Cachoeira. Outro ponto levantado pelo relatório é o de
obtenção de vantagens por parte do senador que atuava em nomeações
impostas por Cachoeira na administração pública e no Senado.
"Aspecto relevante do relacionamento entre Cachoeira e o representado é
o empenho de Demóstenes em conseguir postos na administração pública em
favor de pessoas do círculo de Cachoeira", apontou o relator. "O mais
importante para avaliarmos, contudo, creio eu, seriam as nomeações aqui
no Senado Federal".
Após a conclusão da leitura do voto, o presidente do Conselho de Ética,
senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), disse que colocará o
relatório em apreciação. A votação terá de ser nominal e aberta. Se
aprovado pelo conselho, o processo terá então que ser analisado pela
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Depois, segue para o
plenário da Casa, onde passará por votação secreta.
Leia também: Defesa diz que Demóstenes Torres quer ser julgado no plenário do Senado