Sexta, 29 de junho de 2012
Da Agência Brasil
Débora Zampier, repórter
Depois de quase três anos de investigações, o Ministério
Público denunciou nesta semana 38 pessoas envolvidas na Operação Caixa
de Pandora, que apurou esquema de corrupção na gestão de José Roberto
Arruda no governo do Distrito Federal (GDF). A informação foi confirmada
hoje (28) pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Segundo o procurador, o Ministério Público provou que empresas
beneficiadas em contratos sem licitação com o GDF pagavam propina
regular, muitas vezes mensal, a políticos aliados do governo. Os
envolvidos foram denunciados pelos crimes de corrupção ativa
(empresários) e passiva (políticos) e lavagem de dinheiro. O processo
corre no Superior Tribunal de Justiça (STJ) devido ao foro privilegiado
do conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal Domingos
Lamoglia, afastado do cargo desde 2009.
O Ministério Público concluiu que o líder do esquema era o próprio
Arruda e confirmou Durval Barbosa como um dos operadores do esquema.
Barbosa foi denunciado mesmo com o acordo de delação premiada porque,
segundo Gurgel, o Ministério Público não aceita acordos em que o delator
se exime de qualquer culpa.
A denúncia envolve, ainda, o ex-vice-governador do Distrito Federal
Paulo Octávio, deputados distritais da época – como Leonardo Prudente,
Eurides Britto e Junior Brunelli –, ex-secretários de governo e
empresários, especialmente da área de informática. Apesar de não
divulgar quanto dinheiro foi desviado, o procurador confirmou que o
esquema começou pouco antes das eleições de 2006.
O ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz, que à época era
senador, chegou a ser citado, mas não foi denunciado porque sua idade
avançada – 75 anos – impediria a punição. Quando o denunciado tem mais
de 70 anos, o tempo de prescrição do crime cai pela metade.
O Ministério Público concluiu que o grupo usou uma nova modalidade
de fraude para desviar dinheiro, o chamado reconhecimento de dívida. “O
governo dizia que a empresa X vinha prestando determinado serviço no DF
sem licitação e que era preciso reconhecer a dívida. Por meio disso,
generosíssimos pagamentos eram feitos a diversas empresas, que, em
retribuição, mantinham pagamentos regulares, mensais, a diversas pessoas
do governo do DF”, explicou Gurgel.
O procurador disse que a divisão do dinheiro variava em cada caso, mas citou que Arruda chegava a ficar com 30% e Paulo Octávio com 20%, enquanto os secretários ficavam com uma fatia menor, de 10%. Já os deputados eram beneficiados com valores diversos em troca de apoio político.
O procurador disse que a divisão do dinheiro variava em cada caso, mas citou que Arruda chegava a ficar com 30% e Paulo Octávio com 20%, enquanto os secretários ficavam com uma fatia menor, de 10%. Já os deputados eram beneficiados com valores diversos em troca de apoio político.
Gurgel destacou que nenhum distrital foi indiciado no relatório da
Polícia Federal, o que, segundo ele, prova que a investigação posterior
do Ministério Público neste caso foi fundamental. Atualmente, o poder de investigação criminal do Ministério Público está em xeque no Supremo Tribunal Federal.
Com o oferecimento da denúncia, o relator do inquérito no STJ,
ministro Arnaldo Esteves Lima, convocará a oitiva dos denunciados.
Depois, o tribunal irá decidir se há indícios suficientes de crime para
justificar a abertura de ação penal, o que pode transformar os
denunciados em réus. Durante a ação penal, o relator analisa as provas
sobre o caso e apresenta suas conclusões ao tribunal, que pode condenar
ou não os envolvidos.