Segunda, 9 de fevereiro de 2015
Policiais
recorrem ao “kit flagrante” para encobrir execuções. De 23 casos analisados, 21
acabaram em condenações de PMs que fingiram tiroteios para justificar
assassinatos
Do El País, Edição Brasil
Afonso Benites
Enquanto o homicídio de maneira geral em São Paulo caiu 3,3% e se
aproxima de índices considerados avançados para o Brasil (quase 10
assassinatos por 100.000 habitantes), a morte de cidadãos por policiais
militares cresceu 97% em 2014. Nos 12 meses do ano passado, 694 pessoas
foram mortas por PMs que estavam em serviço. É o maior número de casos
registrados nos últimos dez anos, conforme os dados da Secretaria da
Segurança Pública.
mais informações
Ao analisar as estatísticas do Governo desde 1999, nota-se que
naquele ano cerca de 35 pessoas morriam diariamente, vítimas de
homicídios gerais e uma era vítima de PMs em serviço. No ano passado,
após seguidas quedas nas taxas de assassinatos, a proporção mudou. Ao
menos 11 pessoas morrem vítimas de criminosos civis por dia e duas pelas
mãos dos militares do Estado.
O Governo de Geraldo Alckmin (PSDB) alega que o número de confrontos
subiu e, por isso, aumentou também a quantidade de vítimas (leia texto
abaixo). Especialistas, contudo, contestam essa tese. “Há anos
documentamos casos de supostas resistências seguidas de morte e
constatamos que nem todos os casos são os que os policiais alegavam. Nem
sempre o confronto era necessário”, alertou a diretora da Human Rights Watch
no Brasil, Mara Laura Canineu. Para ela, a polícia brasileira faz um
mau uso da força. “Há vários níveis de uso da força. A polícia
certamente exagera e extrapola o direito que lhe é dado pelo cidadão
para que ela proteja a sociedade”, conclui.
“Para mim, ainda é uma incógnita entender a razão desse aumento.
Talvez se abríssemos a caixa preta das polícias e ampliássemos as
investigações sobre as ações policiais conseguiríamos entender”, afirma
Ivan Marques, diretor do Instituto Sou da Paz. Ele defende um
fortalecimento dos órgãos de controle interno (como a Corregedoria) e
externo (como Ministério Público e a Polícia Civil).
O ano de 2014 foi considerado um ano negativo para a Segurança Pública de São Paulo.
Além do aumento da letalidade policial, cresceu também o índice de
roubos (20%). Os seguidos aumentos nesse tipo de crime, aliás,
resultaram na troca do comando da Secretaria da Segurança Pública e de
toda a cúpula das polícias Militar, Civil e Científica.
Em quatro anos, Governo expulsou 1.771 policiais
Ao garantir que trata a redução da letalidade
policial como uma de suas prioridades, o Governo Geraldo Alckmin
informou que em quatro anos já expulsou 1.771 policiais civis e
militares por mau comportamento. Neste número estão incluídos desde
agentes acusados de furto até homicidas.
Diante de um aumento de 97% nos casos de mortes envolvendo PMs em serviço, a Secretaria da Segurança Pública informou que os confrontos entre policiais e criminosos cresceu 51,9% no ano passado em comparação com 2013. Segundo o órgão, percentualmente o aumento não foi tão significativo. Em nota enviada à reportagem, a secretaria se justificou: “Em 2013, do total de criminosos envolvidos em confrontos, 13% morreram – os 87% restantes fugiram, foram presos ou ficaram feridos. Em 2014, apesar do crescimento nos números absolutos, o percentual de mortos ficou na casa dos 17%. Isto é, 83% dos criminosos sobreviveram”.
De acordo com o Governo, no mês passado foi criado o Conselho Integrado de Planejamento e Gestão Estratégica, órgão que tem como objetivo reunir os comandos das polícias para, entre outros, definir mecanismos para reduzir a letalidade.
Diz a secretaria: “Uma das medidas já determinadas é a intensificação da presença de policiais em situações que possam ensejar confrontos. Com mais policiais no cenário de uma ocorrência, a tendência de haver tiroteios (e mortes) tende a ser menor”.
Mesmo questionado, o Governo se negou a divulgar a quantidade de casos investigados pela Corregedoria da PM nos últimos anos.
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Leia também: Documentos apontam que pichadores foram executados por PMs
Diante de um aumento de 97% nos casos de mortes envolvendo PMs em serviço, a Secretaria da Segurança Pública informou que os confrontos entre policiais e criminosos cresceu 51,9% no ano passado em comparação com 2013. Segundo o órgão, percentualmente o aumento não foi tão significativo. Em nota enviada à reportagem, a secretaria se justificou: “Em 2013, do total de criminosos envolvidos em confrontos, 13% morreram – os 87% restantes fugiram, foram presos ou ficaram feridos. Em 2014, apesar do crescimento nos números absolutos, o percentual de mortos ficou na casa dos 17%. Isto é, 83% dos criminosos sobreviveram”.
De acordo com o Governo, no mês passado foi criado o Conselho Integrado de Planejamento e Gestão Estratégica, órgão que tem como objetivo reunir os comandos das polícias para, entre outros, definir mecanismos para reduzir a letalidade.
Diz a secretaria: “Uma das medidas já determinadas é a intensificação da presença de policiais em situações que possam ensejar confrontos. Com mais policiais no cenário de uma ocorrência, a tendência de haver tiroteios (e mortes) tende a ser menor”.
Mesmo questionado, o Governo se negou a divulgar a quantidade de casos investigados pela Corregedoria da PM nos últimos anos.
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