Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Hélio Doyle: O governo pode se redimir da agressão a Brasília

Sexta, 14 de outubro de 2011
Do Blog do Hélio Doyle
                A decisão do superintendente do Iphan no DF, Alfredo Gastal, sobre o projeto para a 901 Norte só pode surpreender a quem não tem a menor ideia do que seja o tombamento do Plano Piloto de Brasília e a inscrição da cidade, pela Unesco, na lista do Patrimônio Cultural da Humanidade. Gastal decidiu, como era de se esperar, não autorizar a construção de edifícios de até 18 andares em um terreno de 85 mil metros quadrados no centro do Plano Piloto.
                Ninguém é obrigado a concordar com o tombamento, e é compreensível que empresários da construção civil e os que vivem em torno desse segmento não concordem. Afinal, o tombamento impede que a especulação imobiliária destrua a concepção de Lucio Costa e os empresários façam o que quiserem na cidade. Na verdade, não impede, dificulta – basta ver o mal que já foi feito pelos especuladores, com a conivência de sucessivos governos do Distrito Federal.
                Mas não se justifica que o governador, seu secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano, os diretores da Terracap – entre os quais o autor do lamentável projeto – e outras autoridades de Brasília queiram desrespeitar tão flagrantemente o tombamento. E ainda declarem que o projeto feito na medida para uma construtora que só tem feito mal à cidade não fere o tombamento!
                Não se justifica também a covardia de quase todos os deputados distritais e da bancada federal do DF de não tomar posição clara sobre o assunto, condenando o projeto que nada tem a ver com Brasília.
                É compreensível que o projeto tenha surgido no governo de José Roberto Arruda, intimamente ligado a empresários da construção, mais ligado do que permitem a ética pública e a responsabilidade de um governante. É incompreensível que o governo de Agnelo Queiroz e com hegemonia do PT tenha endossado a agressão a Brasília e aos brasilienses.
                Mas não há erro que não possa ser corrigido. Basta que o GDF procure novas alternativas e desista das torres de 18 andares no centro da cidade. Reconhecer o erro é mérito.