Segunda, 7 de novembro de
2011
Por Ivan de Carvalho

Mas isto já é história
antiga, pelo menos do século passado. O que importa é que o PC do B deu neste
fim de semana não exatamente o primeiro, porque este já dera antes, mas dois
dos passos iniciais da marcha que decidiu empreender na direção da prefeitura
de Salvador, a ser disputada nas eleições do ano que vem.
Na Conferência do PC do B
que se realizou no sábado no Hotel Fiesta [Salvador], os comunistas realizaram dois
objetivos. Um deles foi fazer uma ostensiva manifestação de desagravo ao
ex-ministro do Esporte, o baiano Orlando Silva, que, envolvido em acusações e
investigações por corrupção, pediu exoneração do cargo que exercera de 2006 até
fins do mês passado. Não queria sair, mas a presidente Dilma Rousseff o
aconselhou a pedir demissão. Ele não pedira o conselho, que, no entanto, era
irrecusável.
Mas ante as acusações
levantadas pela mídia e os “fatos” apontados em pedido de investigação que o
procurador geral da República, Roberto Gurgel, fez, convencendo o STF a
determinar uma investigação, o PC do B da Bahia quis fazer algo para afirmar a
lisura da conduta do ex-ministro. Até porque precisava exorcizar a suspeita que
poderia espalhar pedras na marcha eleitoral que o partido iniciara. Para isso
contou até com a ajuda do governador Jaques Wagner, que, contrariando muitas
expectativas (dos que esperavam que ele comparecesse, mas fosse discreto),
atendeu a expectativas do PC do B: chamou Orlando Silva de “jovem político”,
disse ter orgulho dele e defendeu sua atuação no governo. Mais tarde, declarou
à imprensa: “Fiz a defesa dele. Podemos até errar, mas não se pode admitir a
imolação pública”.
Como em política, dizem os
políticos, ninguém dá prego sem estopa, a impressão que fica é a de que o
governador, por melhor que seja o conceito que tem de Orlando Silva, quis
também, talvez pensando não só no agora como no futuro próximo de 2012 e 2014,
reduzir tensões entre seu partido, o PT e o PC do B do ex-ministro Orlando
Silva, que é da sua base político-parlamentar, mas decidiu ter candidata
própria à prefeitura de Salvador, a deputada Alice Portugal.
O segundo passo dado sábado pelo PC
do B foi a confirmação (mais uma, porém a mais solene e politicamente mais
ampla), pela Conferência do partido, da candidatura de Alice Portugal à
sucessão de João Henrique. Este segundo passo foi dado com uma firmeza e uma
graça admiráveis. A firmeza pode ser expressa por poucas palavras do líder
comunista baiano Haroldo Lima, presidente do Conselho Nacional do Petróleo: “Não é possível mais que a unidade seja só em
torno deles (petistas). Por que a unidade não é feita em torno de nós (PC do
B)?”. E reforçou com a revelação de que o PC do B está cansado de ser linha
auxiliar, de bater palmas e pregar ou carregar faixas para candidatos de outros
partidos.
Quanto à graça, ficou
por conta da presença de dirigentes oposicionistas, a exemplo dos presidentes
estaduais do PMDB e do DEM, Lúcio Vieira Lima e José Carlos Aleluia, dando o
sinal de que a candidatura de Alice não somente é estimulada por eles como pode
fazer parte de seus planos, a depender da conjuntura eleitoral. Para
preocupação, não admitida, mas inevitável nas circunstâncias, do candidato
petista a prefeito, deputado Nelson Pelegrino.
Talvez também por isso,
o governador, no encontro estadual do PT, no Marazul Hotel, também no sábado,
afirmou: “Reconheço a
legitimidade de o PC do B querer crescer, mas espero que não perca a dimensão
do todo”. Advertência ou desejo – melhor deixar que ele mesmo o defina. No
encontro do PT estiveram, entre muitos, o governador, que discursou e elogiou
José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil de Lula e o mais importante réu no
processo do Mensalão, que corre no STF. Dirceu estava presente, e talvez não
por coincidência o encontro do PT e o lançamento de um livro seu no Shopping
Salvador foram marcados para o mesmo sábado. Há no país uma ampla campanha
petista de reabilitação de Dirceu, expurgado pelo escândalo do Mensalão.
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Este
artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de
Carvalho é jornalista baiano.