Sexta, 4 de novembro de 2011
Por Roberto Gama e Silva, almirante reformado
Nos tempos da infância e da adolescência que passei em Manaus, minha
cidade natal, nunca ouvi a mais leve referência ao grupamento indígena
denominado “Ianomâmi”, nem mesmo nas excursões que fiz ao território,
acompanhando o meu avô materno, botânico de formação, na sua incessante
busca por novas espécies de orquídeas. Tinha eu absoluta convicção sobre
a inexistência desse grupo indígena, principalmente depois que aprendi
que a palavra “ianomâmi” era um nome genérico aplicado ao “ser humano”.
Recentemente, caiu-me nas mãos o livro “A Farsa Ianomâmi”, escrito
por um oficial de Exército brasileiro, de família ilustre, o coronel
Carlos Alberto Lima Menna Barreto, Credenciava o autor do livro a
experiência adquirida em duas passagens demoradas por Roraima, a
primeira, entre 69 e 71, como comandante da Fronteira de Roraima/ 2º
Batalhão Especial de Fronteira, a segunda, quatorze anos depois, como
secretário de Segurança do antigo Território Federal.
Menna Barreto procurou provar que os “ianomâmis” haviam sido criados
por estrangeiros, com o intuito claro de configurar a existência de uma
“nação” indígena espalhada ao longo da fronteira com a Venezuela. Para
tanto citou trechos de obras publicadas por cientistas estrangeiros que
pesquisaram a região na década iniciada em 1910, notadamente o alemão
Theodor Koch-Grünberg, autor do livro “Von Roraima zum Orinoco, reisen
in Nord Brazilien und Venezuela in den jahren 1911-1913.
Embora convencido pelos argumentos apresentados no livro, ainda assim
continuei minha busca atrás de uma personalidade brasileira que tivesse
cruzado a região, em missão oficial do nosso governo, e que tivesse
deixado documentos arquivados na repartição pública de origem. Aí,
então, não haveria mais motivo para dúvidas.
Definido o que deveria procurar, foi muito fácil selecionar o nome de
um dos “Gigantes da Nacionalidade”, embora pouco conhecido pelos
compatriotas de curta memória: o almirante Braz Dias de Aguiar, o
“Bandeirante das Fronteiras Remotas”
Braz de Aguiar, falecido em 17 de setembro de 1947, ainda no cargo de
“Chefe da Comissão Demarcadora de Limites – Primeira Divisão”, prestou
serviços relevantes ao país durante 40 anos corridos, sendo que destes,
30 anos dedicados à Amazônia, por ele demarcada por inteiro.
Se, nos dias correntes, o Brasil já solucionou todas as pendências
que recaíam sobre os 10.948 quilômetros que separam a nossa maior região
natural dos países vizinhos, tudo se deve ao trabalho incansável e
competente de Braz de Aguiar, pois de suas observações astronômicas e da
precisão dos seus cálculos resultaram mais de 500 pontos astronômicos
que definem, juntamente com acidentes naturais, essa longa divisória.
Todas as campanhas de Braz de Aguiar foram registradas em detalhados
relatórios despachados para o Ministério das Relações Exteriores, a quem
a Comissão Demarcadora era subordinada.
Além desses relatórios específicos, Braz de Aguiar ainda fez publicar
trabalhos detalhados sobre determinadas áreas, que muito contribuíram
para desvendar os segredos da Amazônia.
Um desses trabalhos denominado “O Vale Do Rio Negro”, classificado
pelo Chefe da “Comissão Demarcadora de Limites – Primeira Divisão” como
um subsídio para “a geografia física e humana da Amazônia”, foi
encaminhado ao Ministério das Relações Exteriores no mês de janeiro de
1944, trazendo no seu bojo a resposta definitiva à indagação “Ianomâmi!
Quem?
No tocante às tribos indígenas do Vale do Rio Negro, incluindo as do
tributário Rio Branco, afirma o trabalho que “são todas pertencentes às
famílias Aruaque e Caribe, sem aludir à existência de alguns povos cujas
línguas se diferenciam profundamente das faladas pelas duas
coletividades citadas”. Prossegue o autor: “Tais povos formam as
chamadas tribos independentes, que devem ser consideradas como restos de
antigas populações cuja liberdade foi grandemente prejudicada pela ação
opressora de vizinhos poderosos”. Também os índios “Tucanos” constituem
uma família a parte, complementa o trabalho.
Dito isto, a obra cita os nomes e as localizações das tribos aruaques
no Vale do Rio Negro, em número de treze, sem que da relação conste a
pretensa tribo “Ianomâmi”.
Em seguida, foram listadas as tribos caribes, bem como a sua
localização: ao todo são sete as tribos, também ausente da relação o
nome “Ianomâmi”. Dentre as chamadas tribos independentes do Rio Negro,
em número de cinco, também não aparece qualquer citação aos “Ianomâmis”.
Para completar o quadro, a obra elaborada por Braz de Aguiar ainda
faz menção especial ao grupo “Tucano”, pelo simples fato de compreender
quinze famílias, divididas em três ramos: o oriental, que abrange as
bacias dos rios Uaupés e Curicuriari; a ocidental, ocupando as bacias do
Napo, Putumaio e alto Caquetá, e o setentrional, localizado nas
nascentes do rio Mamacaua. Os “Ianomâmis” também não apareceram entre os
“Tucanos”.
Para completar a listagem dos povos da bacia do Rio Negro, a obra
ainda faz menção a uma publicação de 1926, composta pelas “Missões
Indígenas Salesianas Do Amazonas”, que descreve todas as tribos da bacia
do Rio Negro sem mencionar a existência dos “Ianomâmis”.
Assim sendo, pode-se afirmar, sem medo de errar, que esse povo “não
existiu e não existe” senão nas mentes ardilosas dos inimigos do Brasil.
Menna Barreto e outras fontes fidedignas afirmam que coube a uma
jornalista romena, Claudia Andujar, mencionar, pela primeira vez, em
1973, a existência do grupo indígena por ela denominado “Ianomâmi”,
localizado em prolongada faixa vizinha à fronteira com a Venezuela.
Interessante ressaltar que a jornalista que “inventou” os “Ianomâmis”
não agiu por conta própria, mas inspirada pela organização denominada
“Christian Church World Council” sediada na Suíça, que, por seu turno, é
dirigida por um Conselho Coordenador instruído por seis entidades
internacionais: “Comitê International de la Defense de l´Amazon”;
“Inter-American Indian Institute”; “The International Ethnical
Survival”; “The International Cultural Survival”; “Workgroup for
Indigenous Affairs” e “The Berna-Geneve Ethnical Institute”.
Releva, ainda, destacar o texto integral do item I, das “Diretrizes”
da organização referentes ao Brasil: “É nosso dever garantir a
preservação do território da Amazônia e de seus habitantes aborígines,
para o seu desfrute pelas grandes civilizações européias, cujas áreas
naturais estejam reduzidas a um limite crítico”.
Ficam assim bem caracterizadas as intenções colonialistas dos membros
do “Christian Church World Council”, ao incentivarem a “invenção” dos
ianomâmis e a sua localização ao longo da faixa de fronteiras.
Trata-se de iniciativa de fé púnica, como soe ser a artificiosa
invenção de um grupo étnico para permitir que estrangeiros venham a se
apropriar de vasta região do Escudo das Guianas, pertencente ao Brasil
e, provavelmente, rica em minérios. O ato se reveste de ilegitimidade
passiva e de impossibilidade jurídica. Sendo, pois, um ato criminoso, a
criação de “Reserva Ianomâmi” deve ser anulada e, em seguida, novo
estudo da área deverá ser conduzido para o possível estabelecimento de
novas reservas, agora descontínuas, para abrigar os grupos indígenas
instalados na mesma zona, todos eles afastados entre si, por força do
tradicional estado de beligerância entre os grupos étnicos “aruaques” e
‘caribes’.
Outras providências legais devem ser adotadas, todavia, para
enquadrar os “zelosos” funcionários da Funai que se deixaram enganar e
os “competentes” servidores do Ministério da Justiça que induziram o
Ministro da Pasta e o próprio Presidente da República a aprovarem a
decretação de reserva para um grupo indígena inexistente.
Sobre estes últimos poderia ser aplicada a “Lei de Segurança
Nacional”, artigos 9 e 11, por terem eles contribuído para um futuro
seccionamento do território nacional e um possível desmembramento do
mesmo para entrega a outro ou outros Estados.
Roberto Gama e Silva é Almirante Reformado.
