Quarta, 9 de novembro de 2011
Por Ivan de Carvalho

A idéia era a de protestar,
hoje, contra atitude do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, do PT.
Ora, nós já tínhamos uma excelente lista de ministros exonerados sob acusações
de corrupção, ou “malfeitos”, na novilíngua oficial. Já eram cinco – Antonio
Palocci, petista da Casa Civil, Alfredo Nascimento, republicano dos
Transportes, Wagner Rossi e Pedro Novais, peemedebista da Agricultura e do
Turismo, Orlando Silva, comunista do Esporte.
Erenice Guerra, que fora por motivos assemelhados
demitida da Casa Civil, não conta, por haver isto acontecido ainda no governo
Lula, refratário a demitir ministros que praticassem “malfeitos”, salvo em
casos extremos, a exemplos de Mensalão e campanha para eleição presidencial.
Então Erenice não conta, como não conta Nelson Jobim, demitido da Defesa, este
porque as razões da saída foram outras que nada tinham a ver com os tais
“malfeitos”.
Ora, havendo já cinco na lista, claro que se esperava
que o número fosse arredondado para meia dúzia, ao que se esperava chegar com
Carlos Lupi, do Trabalho e Emprego. Mas então vem um intrometido, o governador
Agnelo Queiroz, fazendo todo o possível para se inserir nessa brilhante lista
negra. Acho um absurdo, uma insolência – ele devia aguardar a vez dele. Ordem é
fundamental. Está até na bandeira.
Mas deixa prá lá, que outro tema se impõe. A
chuva que desabou sobre Salvador, mais forte que a chuva de denúncias sobre o
Ministério do Trabalho e Emprego, os outros que o precederam no mesmo
infortúnio e sobre o governador do Distrito Federal.
Aqui, a chuva estava prevista pela meteorologia e
não se fez de rogada. O resultado foi, durante toda a manhã, das 7 às 11 horas
– talvez 12 horas em algumas partes da cidade – uma aliança espantosa entre a
imobilidade urbana e a insegurança pública.
É verdade que, com o prefeito João Henrique em
Brasília, o secretário Gordilho pediu que as pessoas ficassem em casa, saindo
apenas em caso de extrema necessidade. Mas, infelizmente, naquele momento elas
já estavam nas ruas e avenidas, não sendo possível evaporar. Quanto aos
ladrões, eles foram às ruas atendendo exatamente à extrema necessidade deles,
que é, naturalmente, roubar. E o fizeram com competência, praticando arrastões
nos engarrafamentos, em vários pontos da cidade. Quanto à polícia, parece haver
atendido escrupulosamente, com admirável espírito cooperativo (nada a ver com
espírito corporativo), ao apelo do secretário Gordilho. Quanto às sinaleiras –
semáforos para os íntimos delas –, certamente notando a imobilidade geral,
apagaram-se. De que adiantaria ficar sinalizando, se ninguém podia obedecer?
Seria desmoralizante.
A meteorologia prevê para hoje e amanhã mais
chuvas do que ontem. Discute-se na prefeitura suspender o funcionamento das
escolas municipais, pelo menos, mas não está afastada uma medida mais ampla.
Decretar feriado em Salvador, invocando situação de emergência, não é uma coisa
provável. Talvez por medo – se vier um vento forte e malcriado, levar as nuvens
embora, impedir a chuva, com que cara iria ficar (para não falar do serviço de
meteorologia) quem assina o documento decretando feriado?
Se publicado um decreto de feriado na capital,
quem o assinou ficaria dividido entre a torcida para a chuva não vir arrasar a
cidade e a torcida para que ela não falhe, desmoralizando seu decreto.
Sinuca de bico.
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Este artigo foi publicado originalmente na
Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.