Sábado, 17 de dezembro de 2011
Da Revista ISTOÉ - Edição N° 2197 Por Claudio Dantas Sequeira
Com
base em reportagem de ISTOÉ, o chefe do Ministério Público Federal,
Roberto Gurgel, abre investigação para apurar aumento do patrimônio da
família do governador do DF
MAIS SUSPEITAS Depois do escândalo no Ministério do Esporte, Agnelo também vai responder por problemas na Anvisa |
Alvo de uma série de denúncias de corrupção pelas quais já é
investigado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o governador do
Distrito Federal, Agnelo Queiroz, terá agora que responder também às
suspeitas de enriquecimento ilícito que recaem sobre sua família. Na
quarta-feira 14, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
decidiu investigar a evolução patrimonial do clã Queiroz e a conexão de
Agnelo com esses negócios. “Vamos pedir informações à Polícia Federal”,
disse Gurgel. Caberá ao procurador decidir se o caso será apurado no
mesmo inquérito aberto no STJ ou se haverá um novo processo. O pedido de
investigação do procurador-geral da República foi motivado por denúncia
de ISTOÉ. Na última edição, a reportagem da revista revelou que em três
anos a mãe, três irmãos e um cunhado do governador adquiriram bens
avaliados em R$ 10 milhões – incluindo fazendas, empresas e franquias de
restaurantes. Todas as transações foram negociadas pelo empresário
Glauco Alves e Santos e sua mulher, Juliana Roriz Suaiden Santos. O
casal também vendeu a mansão em que Agnelo mora no Lago Sul, em
Brasília. Agora veio a público também a informação de que uma empresa de
Glauco e Juliana foi beneficiada por Agnelo quando este era diretor da
Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), entre 2007 e 2010. Por meio de
uma consultoria e com a ajuda de Agnelo, o empresário ainda negociava
facilidades para farmacêuticas multinacionais na obtenção de certificado
de boas práticas de fabricação – item fundamental para o registro de
operação e licença de produtos.
Na terça-feira 13, com base na reportagem de ISTOÉ, o deputado federal
Fernando Francischini (PSDB/PR) protocolou na PGR um pedido de quebra
dos sigilos bancário e fiscal, além do bloqueio judicial dos bens dos
envolvidos. Francischini também pediu a prisão de Agnelo e do irmão
Ailton Queiroz. “Existem indícios fortes de improbidade administrativa,
corrupção e lavagem de dinheiro”, afirmou Francischini, que, como
delegado da Polícia Federal, foi responsável pela prisão do
megatraficante Juan Carlos Abadia. “Estou bem familiarizado com os
métodos de ocultação de patrimônio por meio de familiares e amigos
laranjas”, diz. Além das medidas já tomadas, o parlamentar pedirá à
Corregedoria da Anvisa que investigue a atuação de Glauco e Juliana
dentro do órgão regulador. Já existe uma sindicância interna sigilosa,
fruto da denúncia de que Agnelo teria beneficiado ilegalmente o lobista
de um laboratório farmacêutico.
Os indícios apresentados por Francischini na semana passada e relatos
de consultores e empresários à ISTOÉ sugerem a montagem de um esquema de
corrupção e tráfico de influência na Anvisa. Homem da confiança de
Agnelo, Glauco atua no órgão de duas maneiras: por meio da empresa Saúde
Import e da consultoria Register Brasil. Ambas funcionam numa pequena
sala comercial na região central de Brasília. A primeira, apesar do
nome, nunca importou sequer uma pílula, mas operaria no mercado como
“barriga de aluguel” de grandes laboratórios internacionais, não
dispostos a enfrentar o longo processo para conseguir uma autorização
federal de funcionamento. Para burlar a lei, pagariam para que empresas
já em operação registrem seus produtos, que depois seriam
comercializados por meio de tradings. A Saúde Import possui o registro
de dois itens: ampola de raio X e lentes de contato Freshkon. Em 31 de
maio deste ano, a empresa de Glauco obteve licença de importação de
milhares de lentes de contato e óculos de Cingapura. Uma semana antes, o
empresário negociou com os irmãos de Agnelo, Ailton e Anailde de
Queiroz, a franquia da Torteria di Lorenza – a mais tradicional de
Brasília –, no principal shopping da capital. Semelhante operação
ocorreu no início de 2008, conforme denunciou o deputado Francischini na
semana passada. Ele descobriu que Agnelo assinou a portaria que
garantiu à Saúde Import operar em 22 Estados no dia 28 de abril. Em
janeiro e fevereiro do mesmo ano, Glauco e a irmã de Agnelo Anailde
Queiroz firmaram duas sociedades em franquias da rede de restaurantes
fast-food Bon Grillê.
Leia a íntegra da reportagem no Blog do Sombra ou no site da IstoÉ.