Sexta, 2 de dezembro de 2011
Por
Ivan de Carvalho

Foi o bastante para o
presidente da Força Sindical, o deputado pedetista Paulo Pereira da Silva, o
“Paulinho da Força”, afirmar que a vetusta Comissão de Ética é integrada por
“gagás e velhinhos que perseguem Lupi”. Mas por qual razão a comissão faria
essa opção, se há tanta coisa igualmente ruim para perseguir por aí? Parece-me
que o Paulinho da Força está com preconceito contra a Comissão de Ética.
Ou é coisa muita mais
séria. Afinal, o PT está com uma fome incrível para abocanhar o Ministério do
Trabalho, caminho mais curto para alcançar e consolidar total hegemonia sobre o
setor sindical e assumir o domínio completo do imposto sindical que é cobrado de
todos os brasileiros com emprego formal.
Daí, aliás, que a
presidente Dilma Rousseff vem adiando o quanto pode a faxina no Ministério do
Trabalho. Para deixar a coisa para janeiro, quando pretende, segundo anuncia o
governo, fazer uma reforma ministerial, no bojo da qual vários cargos de
ministro seriam afetados. Aí, Lupi sairia e o PDT receberia a oferta de outro
ministério, entregando-se o do Trabalho, com sua poderosa influência no setor
sindical, ao PT. Ontem até afirmava-se que, se a presidente for obrigada a
demitir Lupi imediatamente, o substituto não será definitivo (caso em que seria
difícil, sem grave problema, tirar, bandeirosamente, o ministério do PDT), mas
um interino. E na reforma de janeiro (que até já se diz que pode ficar para
fevereiro), a perfídia política contra o PDT seria completada.
Mas, voltando à Comissão de
Ética da Presidência, a presidente, ao receber a comunicação da recomendação
unânime, mandou ao presidente do órgão, o ex-presidente do Supremo Tribunal
Federal Sepúlveda Pertence, ofício para explicar as razões da recomendação para
exoneração de Lupi, de modo a que sejam analisadas. Ora, bastaria ler (já deve
ter lido e analisado) o que está na imprensa.
Mas, bem, o jurista
Sepúlveda Pertence não irá remeter a presidente da República à mídia, amiúde
qualificada de golpista. Mas ele poderia perguntar em quais razões da
recomendação a presidente da República está interessada:
1. Inexplicabilidade: falta
de explicações para a série de convênios irregulares firmados pelo ministério
com pessoas do seu partido.
2. Fantasmagoria: o fato de
Lupi haver, de 2000 a 2006, ocupado cargo comissionado (o de melhor
remuneração no gabinete) e recebido vencimentos na Câmara dos Deputados sem
aparecer, quando este cargo exige a presença do ocupante, vedada, portanto a
condição de funcionário-fantasma, segundo as regras da Câmara. O procurador
geral da República, Fernando Gurgel, falando “em tese” – pois alegou que ainda
não havia examinado o caso concreto – disse tratar-se de crime, mais precisamente,
estelionato.
3. Bilocação: Enquanto
exercia o cargo em gabinete do PDT na Câmara, Lupi exercia outro cargo na
Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Santo Antonio da Pádua e Frei Galvão,
entre outros, demonstraram ser capazes de praticar a bilocação, mas no caso de
Lupi há fortes indícios de que tratava-se apenas de enganação – e acumulação
proibida de cargos públicos mesmo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.