Sexta, 13 de abril de 2012
Da Veja Online
Um deles confirma reunião e outro nega. Contraventor mandou intermediário convidar dupla para uma orgia em Goiânia. Ouça a gravação
Rodrigo Rangel e Gabriel Castro
Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal
(Breno Fortes/CB/ D. A Press)
Um dia após negar ter se encontrado com Carlinhos Cachoeira, o
governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, voltou atrás nesta
quinta-feira e admitiu ter se reunido com o contraventor. Horas antes,
havia surgido novos indícios de que a máfia que controlava os
caça-níqueis em Goiás se aproximou de forma suspeita do petista. Agora,
novas gravações obtidas por VEJA mostram que os dois secretários mais
poderosos de Agnelo se reuniram com um dos mais proeminentes integrantes
da máfia. E mais: queriam “se enturmar” com o próprio Cachoeira.
Paulo Tadeu, deputado federal licenciado e titular da Secretaria de
Governo, e Rafael Barbosa, velho amigo do governador e atual secretário
de Saúde do Distrito Federal, jantaram em 7 de abril do ano passado com
Cláudio Abreu, parceiro de primeira hora de Carlinhos Cachoeira que
tinha como incumbência tocar os contratos da máfia com o poder público,
especialmente nos setores de obras e limpeza urbana. O jantar foi num
restaurante japonês de Brasília. Enquanto esperava os dois secretários,
Cláudio Abreu telefona para Cachoeira e diz que a conversa serviria para
“amarrar os bigodes”. “Estou aqui no restaurante esperando o Rafael e o
Paulo Tadeu", diz. "Os dois vêm cá para amarrar os bigodes comigo.
Vamos ver como é que vai ser”. Ele não entra em detalhes acerca do que
se seria tratado.
Cachoeira demonstra estar informado sobre a reunião e sugere que
Cláudio Abreu – que formalmente se apresentava como diretor da
empreiteira Delta Construções, empresa que a investigação aponta como
integrante do esquema – convide os dois secretários para uma orgia em
Goiânia: “Marca uma p... com eles amanhã aqui em Goiânia. Aí eu chamo as
meninas”. Cláudio Abreu, então, propõe que o encontro seja marcado para
a semana seguinte: “Não, vamos fazer semana que vem”.
Cerca de duas horas depois, Cláudio Abreu interrompe o jantar para
pedir um número de telefone a Cachoeira. O contraventor aproveita para
saber com estava indo a conversa. Ouve como resposta a notícia de que
Paulo Tadeu e Rafael Barbosa desejavam “se enturmar” com o próprio
Carlinhos Cachoeira. Em relatório, a Polícia Federal descreve assim o
diálogo: "Carlinhos pergunta se está boa a conversa com o amigo e
Cláudio diz que tá bom para c... e querem (Paulo Tadeu e Rafael) se
enturmar com Carlinhos".
Paulo Tadeu e Rafael Barbosa têm, por razões diferentes, posições de
destaque na cadeia de comando do governo Agnelo. O primeiro é tido como
principal representante do PT brasiliense na equipe do governador,
recém-convertido ao partido. Por isso, é apontado como o secretário mais
influente do governo, com poderes para decidir sobre cargos e
contratos. Já Rafael Barbosa é homem da estrita confiança de Agnelo, de
quem é amigo de longa data. Médico sanitarista, Barbosa acompanhou
Agnelo em todos os últimos cargos públicos que o governador ocupou. Ele
também foi um dos encarregados de arrecadar fundos para a campanha de
Agnelo.
Resposta - Paulo Tadeu admite o encontro. Diz que a
reunião tratou do contrato da coleta de lixo que a Delta mantém com o
governo local. "A Delta entrou no sistema da coleta de lixo por fruto de
uma liminar. Na época, havia uma boataria de que o governo poderia
tirar a Delta para que outra empresa pudesse entrar no sistema de coleta
de lixo. O que eu disse a ele é que o governo iria cumprir a decisão
judicial, fosse ela qual fosse".
O petista também garante que nunca esteve com Carlinhos Cachoeira e que
não se lembra de ter recebido de Cláudio Abreu algum convite para
conhecer o contraventor. Paulo Tadeu alega desconhecer a relação entre
os empresários. "Eu não sou policial para ficar sabendo as relações que o
dirigente da Delta tem".
O secretário diz que, durante a reunião, tratou apenas de assuntos
republicanos. E não vê problema em fazer uma reunião do tipo fora do
gabinete e depois do expediente: "Não vejo que há imoralidade, desde que
não se misture o interesse público com o privado", justifica.
Já o secretário Rafael Barbosa alegou, via assessoria de imprensa, que
nunca esteve com Cláudio Abreu nem com Carlinhos Cachoeira e atribuiu as
informações a uma tentativa orquestrada de prejudicá-lo. As versões
dois secretários de Agnelo se chocam. O próprio Paulo Tadeu, em
entrevista a VEJA, desmentiu Rafael Barbosa e confirmou que o colega
estava, sim, no jantar: "O Rafael é quem conhecia o Cláudio e disse que
ele o procurou para que nós fizéssemos a reunião".
Veja a transcrição do diálogo e ouça a gravação:
Cláudio: Estou
aqui no restaurante esperando o Rafael e o Paulo Tadeu. Os dois vêm cá
para amarrar os bigodes comigo. Vamos ver como é que vai ser.
Cachoeira: Marca uma p... com eles amanhã aqui em Goiânia. Aí eu chamo as meninas.
Cláudio: Não, vamos fazer semana que vem. A Carina está viajando dia 13 e vai ficar um mês, Carlinhos.
Cachoeira: Bom demais.
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Comentário
do Gama Livre: Se a coisa aí da reportagem da Veja for verdade, o Capitão Nascimento, do filme Tropa de Elite, vai ter que mandar pedir para sair não apenas o "zero um", mas também o "zero dois", o "zero três", o "zero quatro"...