Sábado,
22 de dezembro de 2012
Por
Ivan de Carvalho
Bem, como o mundo não acabou de
véspera e não existe, como dizem os cientistas, evidência científica de que
isso vá acontecer hoje, o suposto não-dia do calendário maia, cujo “ciclo de
contagem longa” teve ontem o seu último dia, vamos tentar abordar algum outro
tema.
Mas não sem antes assinalar que é voz geral na
Internet que o planeta X – apelidado de Nibiru, significando “o planeta da
travessia” ou “aquele que cruza” ou ainda “aquele que atravessa” – pelos
sumérios, penetra o sistema solar interno e vai se aproximando inexoravelmente
da Terra, do que se aproveitará para fazer a maior bagunça possível aqui.
Também
não sem antes assinalar que rola no Youtube há meses um vídeo em que Don
Yeomans, do Jet Propulsion Laboratary (Laboratório de Propulsão a Jato dos
Estados Unidos) explica sensatamente que o calendário maia não acabou, apenas o
dia 21 passado encerrou um ciclo de 5.125 anos e ontem teria começado outro (se
os maias ainda estivessem dando as caras lá pelo México). Assim como no dia 31
de dezembro vai terminar um ano dos nossos e no dia 1º de janeiro começa outro.
Mas tudo bem arrumadinho dentro do calendário gregoriano. Os que discordam de
Yeomans sugerem ou garantem que o fim daqueles 5.125 anos significa que uma Era
acabou e outra, um novo estágio, está começando. Não é apenas como o pré e o
pós-réveillon.
Também
garante Yeomans que se estivesse vindo aí, já quase chegando, o planeta Nibiru,
com tamanho estimado de quatro vezes o da Terra, “nós – supostamente, os
cientistas – já o teríamos descoberto”, o que seria impossível de esconder com
tanto astrônomo por aí, mas, assegura, não descobriram. Aí é que a porca torce
o rabo, porque a Internet está juncada de vídeos, sites, informações que, com a
mesma ênfase de Yemans, asseguram que uma grande conspiração de silencio e
encobrimento está em curso e persistirá enquanto possível.
Que diriam, afinal, o JPL, a NASA, os governos
dos países mais avançados do mundo, se confirmassem a aproximação do
perturbador Planeta da Travessia? “É, bem, ele vem aí, vai produzir o caos na
Terra e nós não podemos fazer nada a respeito, simplesmente não sabemos o que
fazer”. E enquanto isso, segundo garantem muitas centenas de vídeos e sites na
Internet, fazem cavernas, enormes bases subterrâneas, algumas interligadas por
túneis, bunkers formidáveis. Isso para abrigar as elites políticas, financeiras,
econômicas, científicas e algumas outras pessoas escolhidas.
Fantástico, mas tudo isso está amplamente posto
na Internet junto com a negação enfática de Yeomans, do JPL. Menos fantástico,
porque fato amplamente anunciado, é que, coincidindo com essa onda toda, há
poucos anos inauguraram um banco mundial de sementes de todas as plantas
comestíveis conhecidas no planeta, uma instalação presumivelmente à prova de
cataclismos, na gelada Groenlândia.
Também bastante factual, porque à vista dos
passantes pelas estradas norte-americanas, “centros residenciais”
parecedíssimos com os campos de concentração nazistas – altas cercas de arame
farpado e eletrificado, cartazes proibindo entrar com qualquer coisa que ajude
um interno a sair – mostrando que os futuros residentes serão presos – imensos
barracões de três, quatro andares. E amontoados, milhares e milhares de caixões
de defunto com capacidade para três americanos cada um (brasileiros, menores e
menos gordos, caberiam facilmente quatro). Caixões amontoados nos “centros
residenciais” e à margem de muitas estradas.
A FEMA – sigla em inglês para Agência Federal de
Gerenciamento de Emergência –, que ganhou extrema relevância após o ataque ao
World Trade Center em setembro de 2001, administra os caixões e os “centros
residenciais” que, somados, segundo as estimativas encontradas na Internet,
podem abrigar-prender 40 milhões de pessoas.
Bem, não deu para cumprir a promessa inicial de abordar
outro tema. Mil perdões.
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Este artigo foi publicado
originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.