Domingo, 30 de dezembro de 2012
Paulo de Tarso Venceslau,
Ex-petista, ex-secretário de Finanças de São José do Campos, economista e diretor de redação do Jornal Contato.
O nome de Paulo Okamoto nas manchetes de jornais não é novidade. A
imprensa insiste em mantê-lo nos cadernos políticos quando deveria
confiná-lo nas páginas policiais. É a minha opinião por tudo que conheci
e convivi com essa misteriosa figura, responsável, entre outras coisas,
pela administração das contas pessoais do ex-presidente, desde o tempo
em que Lula presidiu o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do
Campo.
Okamoto tem muito a explicar
A leitura do Estadão de terça-feira,11, me deu a sensação de estar
vivendo de novo uma experiência já vivida. O chamado déjà vu, termo
inventado pelo filósofo francês Emile Boirac, que sonhava com o
Esperanto um dia ser a língua universal da humanidade. Dizem que até
Santo Agostinho já teria pesquisado o tema que, segundo o santo, não
passava de um erro de nosso cérebro difícil de explicar.
Nos meus tempos de militante, Okamoto fazia parte de um esquema
paralelo ao da greve que corria solto em 1979. Seu nome constava de uma
lista de dirigentes sindicais que deveriam assumir clandestinamente o
sindicato, caso a diretoria eleita fosse presa pela polícia política.
Nessa mesma ocasião, eu era um dos coordenadores da parte financeira do
Fundo de Solidariedade que funcionava na Assembleia Legislativa de São
Paulo. Chegava muita grana do exterior. O Euro ainda não existia. Mas os
dólares, francos e marcos eram muito bem recebidos.
O administrador do Sindicato, Sadao Higuchi, era quem encaminhava os
recursos vindos do exterior para o compadre de Lula. Sadao morreu
“afogado”na represa localizada nas proximidades de Bragança Paulista em
13 de junho de 1998, em plena campanha eleitoral. Lula fez questão de
suspender todas as atividades para participar das buscas. Quem conhece a
represa, como eu conheço, não consegue entender o que aconteceu. Sadao
morreu afogado, mas tinha uma contusão na cabeça. Ele teria caído n’água
e o barco teria se chocado com ele. Pequeno enorme detalhe: tratava-se
de um bote inflável.
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AUDITORIA
Em 1992, o PT elegeu vários prefeitos no estado. Indicado por José
Dirceu e Aloísio Mercadante, assumi a secretaria de Finanças de São José
dos Campos. A empresa CPEM, representada pelo compadre de Lula, era a
maior credora da prefeitura então comandada pela futura bailarina Ângela
Guadagnin. Auditoria externa que contratei comprovou uma série de
irregularidades. Informado pessoalmente por mim, Lula convocou Okamoto e
ordenou que ele me acompanhasse em uma conversa com seu compadre. Ou
seja, enviou-me para conversar pessoalmente com o acusado.
Por outro lado, na mesma ocasião, Okamoto circulava pela prefeitura
de São José em busca de lista de empresários credores. Ele não ocupava
qualquer cargo no paço. Era evidente que buscava recursos paralelos, com
anuência da então prefeita.
No mesmo dia em que a auditoria externa encerrou seus trabalhos e me
enviou o relatório fui exonerado sumariamente a pedido de Paulo Okamoto e
Paulo Frateschi, segundo me relatou a própria prefeita. Algumas semanas
antes da exoneração, sofri um atentado na então Rodovia dos
Trabalhadores, hoje Ayrton Senna. O carro ocupado por três homens
enormes tinha chapa fria, conforme informou a Polícia Civil onde
registrei o Boletim de Ocorrência. Detalhe: o carro em que me encontrava
era dirigido por um funcionário de carreira da prefeitura, que urinou
nas calças, literalmente.
Quando Lula foi eleito em 2002, pensei seriamente em pedir asilo
político em algum país europeu. Cheguei a ter pesadelos. Sonhava que
Okamoto era chefe da Polícia Federal. Fui dissuadido por meu sogro, um
advogado brilhante, Lupércio Marques de Assis, que morreu logo após a
posse do governo petista.
Em 2006, defrontei-me com Paulo Okamoto em uma acareação realizada no
Congresso Nacional por ocasião da CPI dos Bingos. Na ocasião, entreguei
formalmente uma vasta documentação aos congressistas. Duvido que alguém
tenha lido. Mas uma coisa me chamou a atenção: o olhar de ódio com que
Okamotto me encarava.
Diante desse breve relato, não tenho nenhum motivo para por em dúvida
o depoimento de Marcos Valério, um dos responsáveis pelo mensalão que o
levou à condenação superior a 40 anos. Parece que foi para mim que
Okamoto disse: “Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você.
(…) Ou você se comporta, ou você morre.”
Fonte: Tribuna da Internet