Sexta,
28 de dezembro de 2012
Por
Ivan de Carvalho
A presidente Dilma Rousseff
disse ontem que é “ridículo” afirmar-se que o país corre o risco de sofrer
racionamento de energia elétrica.
Ela, que já foi ministra das Minas e Energia
durante a maior parte do primeiro mandato presidencial de Lula da Silva,
poderia talvez ter acrescentado que este risco existia caso o Brasil
continuasse apresentando um crescimento do Produto Interno Bruto similar ao dos
últimos anos da década passada.
Felizmente, se é que podemos dizer assim, isso
não aconteceu. Por conta da crise financeira e econômica global e por causa de
algumas causas genuinamente internas, o crescimento do PIB desabou e – apesar
de “medidas pontuais” desesperadamente repetidas e que já deram sinais de
completa fadiga – tornou-se insignificante no terceiro trimestre deste ano. As
perseverantes previsões otimistas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, já
estão sendo objeto de brincadeiras e piadas na mídia internacional.
Já houve uma experiência anterior de severo
racionamento de energia. Durou de 1º de julho de 2001 a 27 de setembro de 2002,
durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Todo consumo que
ultrapassasse o estipulado pelo governo para cada consumidor, segundo um
cálculo que levava em conta o consumo médio anterior, gerava uma sobretarifa.
Então, os consumidores foram forçados a gastar menos para ajudar o país e
defender os próprios bolsos. Mas este último objetivo, pelo menos, não
conseguiram satisfazer. Isto porque, após obrigá-lo a consumir menos energia
para não pagar demais, o governo, bem depois de encerrado por generosas chuvas
o racionamento, resolveu obrigar os consumidores a pagarem mais porque haviam
consumido menos.
É que as empresas de distribuição de energia
haviam faturado menos, por venderem menos energia (que não tinham para
oferecer, por causa da geração insuficiente por falta de água nas
hidrelétricas) e precisavam recuperar seu prejuízo, melhor dizendo, seus lucros
cessantes. Foram buscá-los, com a pressurosa ajuda do governo, nos bolsos dos
consumidores, mediante a imposição de uma sobretaxa para compensar o consumo
reduzido a que fora obrigado.
Depois do racionamento, o país lançou-se em um
apressado programa de compra e montagem de usinas térmicas de geração de
energia, usando óleo como combustível. Essas usinas e principalmente – como já
assinalado – o nível inexpressivo de crescimento do PIB é que permitem à
presidente Rousseff considerar “ridículo”, no momento, dizer que há risco de
racionamento.
Mas os apagões, eles continuam. Enquanto ontem
ela descartava a hipótese de racionamento, da qual o PSDB falara nos últimos
dias, moradores de dezenas de bairros do Rio de Janeiro ficaram sem energia na
quarta-feira, em alguns casos por mais de 12 horas seguidas. Problemas
semelhantes já ocorreram várias vezes neste mês.
Em quase todos os casos de apagões nos anos
recentes, o governo sempre atribuiu a culpa a algum raio que atingira, ora uma
subestação de não sei onde, ora uma linha de transmissão, causando uma
sobrecarga que acionava os sistemas automáticos de desligamento como proteção
da rede. Pois agora a presidente da República diz (disse ontem) que não tem
nada disso. Quando uma interrupção do fornecimento de energia for atribuída à
queda de um raio, “vocês gargalhem”, sugeriu aos jornalistas. “Raio cai todo dia.
Um raio não pode desligar o sistema”.
Então, o que houve realmente em cada uma das
vezes em que se disse que um raio foi responsável por um apagão? “Se cai (o
sistema), é falha humana. Não é sério dizer que o sistema caiu por causa de um
raio”, garante a presidente. Quais foram os responsáveis pelas falhas? E quem
não foi sério ao invocar a teoria do raio?
O caso merece uma investigação. Mas, séria.
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Este artigo foi publicado
originariamente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano
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Comentário do Gama Livre: Dilma falou sobre energia nesta quinta pela manhã. À noite vários bairros do Rio de Janeiro voltaram a ficar sem luz. Mas não foi apagão, foi apenas o "risco de interrupção de
energia elétrica" que riscou a luz da vida dos cariocas.
Que tal uma bolsa-fifó?