Quinta, 27 de dezembro de 2012
Débora Zampier, repórter da Agência Brasil
O ano de 2012 ficará marcado no Supremo Tribunal Federal
(STF) como tempo de grande movimentação jurídica e administrativa. Foram
três presidentes, duas aposentadorias e o maior julgamento já ocorrido
na Corte, o da Ação Penal 470. Em 53 sessões divididas entre quatro
meses e meio, a Corte julgou os 37 acusados de envolvimento no esquema
conhecido como mensalão, condenando 25 réus e absolvendo 12.
O julgamento da ação foi o assunto jurídico de maior repercussão em
2012, mas o STF pautou temas de impacto desde o início do ano. Foram
questões que influenciaram a condução do próprio Judiciário e as áreas
de política, proteção à mulher, saúde, educação e direitos individuais
ou coletivos.
Logo na abertura do ano, em fevereiro, entrou em pauta a ação sobre
os poderes de investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A
questão causou polêmica ainda em 2011, quando o presidente Cezar Peluso
defendeu limites para o órgão, enquanto a corregedora-nacional de
Justiça, Eliana Calmon, era favorável à maior liberdade do conselho na
apuração de desvios cometidos por juízes. Por maioria de votos, o STF
garantiu poderes mais amplos ao CNJ.
Com apenas uma semana de intervalo, a Corte voltou a atrair atenções
no julgamento de processo envolvendo a Lei Maria da Penha. Sancionada
em 2006 para combater a violência doméstica, a norma não estava sendo
efetiva porque muitas vítimas desistiam de denunciar os companheiros. O
STF decidiu que o Ministério Público pode prosseguir com a denúncia,
mesmo contra a vontade da agredida. A Corte também proibiu os juizados
especiais, que atuam em pequenas causas, de julgar os crimes envolvendo a
Lei Maria da Penha.
Ainda em fevereiro, o Supremo voltou a discutir a Lei da Ficha
Limpa, garantindo a sua validade nas eleições municipais deste ano. A
decisão também confirmou a aplicação da norma em situações que ocorreram
antes de sua edição, em 2010. Quase dois meses depois, no último
julgamento comandado por Cezar Peluso, a Corte entendeu que o aborto de
fetos sem cérebro não é crime.
Já sob a presidência de Carlos Ayres Britto, que assumiu em 19 de
abril, o Supremo confirmou a validade das cotas raciais para o ingresso
em universidades públicas. A educação voltou à pauta em maio, quando o
STF garantiu a legalidade do Programa Universidade para Todos (ProUni).
Seguindo a tradição de proteção ao direito das minorias, o STF
anulou vários títulos de propriedade na Bahia, que estavam localizadas
dentro da Reserva Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu. A defesa dos
direitos individuais também orientou a decisão, que permitiu a liberdade
provisória para presos por tráfico de drogas que ainda respondem a
processo, anulando trecho da Lei Antidrogas, de 2006.
A política foi o tema das últimas sessões antes do julgamento do
mensalão, em junho. Os ministros entenderam, por maioria, que os novos
partidos têm direito a tempo maior de propaganda em rádio e TV, desde
que tenham deputados federais em seus quadros. O caso envolvia a criação
do PSD e acabou influenciando decisão posterior do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), que reconheceu que a mesma regra do tempo de propaganda
deve ser aplicada na distribuição de uma cota maior do Fundo
Partidário.
Ayres Britto presidiu o STF até novembro deste ano, quando foi
aposentado compulsoriamente ao completar 70 anos. No dia 22 de novembro,
tomou posse Joaquim Barbosa, primeiro presidente negro do Supremo, que
deverá permanecer no cargo pelos próximos dois anos. Relator do processo
do mensalão, Barbosa se dividiu entre as duas funções até 17 de
dezembro, quando o julgamento terminou.
No dia 29 de novembro, o então integrante do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Teori Zavascki, assumiu a vaga deixada por Peluso. O substituto de Ayres Britto ainda não foi indicado pela presidenta Dilma Rousseff.
No dia 29 de novembro, o então integrante do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Teori Zavascki, assumiu a vaga deixada por Peluso. O substituto de Ayres Britto ainda não foi indicado pela presidenta Dilma Rousseff.
Barbosa já adiantou que, no ano que vem, dará prioridade aos casos
classificados como “repercussão geral”. Quando há essa identificação, as
decisões do STF devem ser aplicadas a todos os processos semelhantes em
instâncias inferiores, desafogando a Justiça.