Quarta, 23 de janeiro de 2013
Por Chico Sant’Anna
Se vivo fosse, Leonel Brizola completaria, no dia 22/1/2013, 91
anos. O então presidente nacional do PDT e ex-governador do Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul morreu no dia 21 de junho de 2004, aos 82
anos, vítima de uma infecção pulmonar.
Em março do mesmo ano, o destino me reservou a sorte de ser o ultimo
jornalista a fazer uma grande entrevista para televisão com ele.
Depois de três dias de chá de espera e após muita insistência no
telefone para que ele não cancelasse uma gravação pré-agendada há
semanas, ele me recebeu com a equipe da TV Senado na portaria do prédio
onde morava em Copacabana. Fomos para o prédio já com as malas prontas
para em em seguida pegar o avião nos Santos Dumont. Aquele era o nosso
último dia no Rio de Janeiro. Já havíamos remarcado a passagem diversas
vezes. Na verdade, o dead line dado pela TV havia vencido na véspera.
Mas decidimos ficar mais aquele dia por uma questão de compromisso com o
material a ser produzido. O depoimento de Brizol era fundamental para o
que pretendíamos fazer. Já nem havia mais diárias, a locação do carro
havia estourado, mas a equipe decidiu pagar a última noite de hotel com
dinheiro do próprio bolso.
Brizola não me deixou subir ao apartamento. Ele desceu no elevador e
perguntou o que queríamos. A entrevista deveria ter um tratamento
estético, plástico, diferenciado, com uma luz bonita, um fundo que
lembrasse a temática que tratávamos. mas o repórter-cinematográfico
Marcos Feijó, acompanhado do auxiliar José Zenildo, não teve a mímima
chance de produzir algo diferenciado naquele local: a portaria do prédio
dele.
A porta externa da portaria era de vidro blindex e jogava uma luz
azulada no minúsculo espaço que tínhamos com Brizola. Para piorar, ao
fundo, do lado direito do ex-governador, havia a porta do elevador que
não se cansava de abrir e fechar. Mas era gravar daquele jeito ou não
gravar nada. Como não é possível falar de Brasil do século XX sem
incluir Leonel deMoura Brizola e não sabíamos se teríamos outra
oportunidade a saída era mandar ver ali mesmo. O destino nos mostrou que
estávamos certos.
E foi assim: ele, sentado na cadeira do porteiro do prédio, e eu, no
case que embala a câmera, conversamos por horas. Ressabiado pelo
tratamento que historicamente recebeu da mídia nacional, se mostrou, no
início, bem desconfiado. Lembro-me que disse: “olha guri, vou lhe dar
uma chance, pode perguntar o que você quiser, sem medo. Eu não me
incomodo.”