Terça, 12 de março de 2013
Jornalista britânico Andrew Jennings, parceiro da Pública, conta o caso
do dinheiro enviado pela FIFA à Arábia Saudita e a história da mala de
400 mil dólares de Ricardo Teixeira
Uma das primeiras coisas que Sepp Blatter fez ao assumir a
presidência da FIFA, em 1998, foi abrir os cofres para um país que
apoiou financeiramente sua campanha.
Ele não tinha dinheiro suficiente para pagar a dívida com esse país,
mas a FIFA tinha. Então Blatter bateu um papinho com seu fiel escudeiro e
cabeça do Comitê de Finanças da entidade, o malandro Julio Grondona
[NT: também presidente da Associación de Fútbol Argentino, a AFA, a CBF
argentina], e sem contar nada a ninguém eles repassaram 470.000,00
francos suíços (cerca de US$ 680.000,00) para alguém na Arábia Saudita,
um dos países mais ricos do mundo.
Blatter afirmou que o dinheiro foi repassado para cobrir um “excesso
de gastos” do ano anterior, quando a Arábia Saudita sediou a Copa das
Confederações. Mas acontece que esta competição, conhecida como Copa do
Rei Fahd, havia sido inteiramente bancada pelos sauditas sem custos para
a FIFA.
Desonestos
Poucos na FIFA tem reputações financeiras mais duvidosas do que
Blatter e Grondona. Eles contaram à empresa de auditoria KPMG, em 1999, a
historinha – difícil de acreditar – de que o dinheiro tinha ido para a
Arábia Saudita. Nesse caso, quem teria recebido o dinheiro? Ninguém
sabia de nada porque os demais membros do Comitê de Finanças não haviam
sido consultados sobre o pagamento.
No Relatório de Gestão confidencial feito pela KPMG, o ingênuo
auditor Fredy Luthiger – sempre bem cuidado e cortejado por Blatter em
Copas do Mundo – murmurou que, no futuro, o Comitê de Finanças deveria
consultado para aprovar “pagamentos como aquele”.
Blatter, sem dúvida sorrindo, aparentemente concordou. Mas na
prática ignorou aquela recomendação, mantendo até os dias atuais o
direito de ser o único que assina os cheques da FIFA.
As contas bancárias offshores e secretas de Grondona – reveladas em
um vídeo gravado por uma associação comercial, depois tirado de
circulação -, estão sendo investigadas agora pela polícia argentina. O
repórter alemão Jens Weinreich fez os cálculos: o dinheiro depositado
nas várias contas bancárias, a maioria delas situada na Suíça, alcança a
assombrosa quantia de US$ 121 milhões. Grondona se recusa a dizer de
onde veio esse dinheiro.
Lavanderia de dinheiro
Era um dia normal no escritório do Departamento de Finanças da FIFA. De repente entrou o membro do Comitê Executivo, Ricardo Teixeira, carregando uma mala grande e pesada. “O que podemos fazer pelo senhor?”, lhe perguntaram.
Teixeira abriu a mala e despejou espantosos US$ 400.000,00 em
dinheiro vivo! Ele disse que era um pagamento adiantado à CBF para
cobrir os custos da participação na Copa do Mundo de 1998, na França.
Ninguém no Departamento de Finanças ousou perguntar por que Teixeira
estava carregando tal volume em dinheiro vivo, nem onde ele tinha
conseguido aquilo – ou o que estava fazendo com aquela mala em 2000, 18
meses depois do fim da Copa de 1998.
Leia a íntegra de Blatter, Grondona e Teixeira: malas e depósitos suspeitos