Sexta, 18 de abril de 2014
ÉPOCA revela mais suspeitas de gestão temerária – e também de irregularidades – dentro da estatal
DIEGO ESCOSTEGUY, COM MARCELO ROCHA, MURILO RAMOS E FLÁVIA TAVARES
17/04/2014
Na manhã da segunda-feira, dias após o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ter convocado os petistas a defender a Petrobras das mais
graves acusações de corrupção na história, a presidente Dilma Rousseff
trocou o discreto tailleur preto da Presidência pela clássica jaqueta
laranja da estatal. Deixou a labuta no Planalto para fazer campanha no
Porto de Suape, em Pernambuco. Numa cerimônia montada às pressas para
lançar ao oceano o navio Dragão do Mar, Dilma defendeu incisivamente a Petrobras.
“Não ouvirei calada a campanha negativa dos que, por proveito político,
não hesitam em ferir a imagem desta empresa que nosso povo construiu
com tanto suor e lágrimas”, disse, zangada. “Nada, nem ninguém,
conseguirá destruir (a Petrobras). Com o apoio de todas as pessoas, a Petrobras resistiu bravamente às tentativas de desvirtuá-la, reduzi-la e privatizá-la.”
A jaqueta laranja que Dilma ostentava ao discursar já deu orgulho aos
brasileiros. Quem não teria orgulho da maior empresa do Brasil, a 13ª
produtora de petróleo do mundo e líder inconteste na exploração de óleo
em alto-mar? Hoje, é a mesma jaqueta de Paulo Roberto Costa, o
ex-diretor da Petrobras preso pela Polícia Federal (PF), acusado de
comandar um dos mais vastos esquemas de corrupção já descobertos na
estatal, um sujeito mantido no cargo por um consórcio entre PT, PP e
PMDB, com o aval de Lula, que o chamava de “Paulinho”. A mesma jaqueta
de Nestor Cerveró, o ex-diretor internacional da Petrobras que, indicado
por PT e PMDB, é agora acusado de ser o artífice do desastre conhecido
como “operação Pasadena”, em que a estatal desembolsou US$ 1,2 bilhão
por uma refinaria nos Estados Unidos comprada um ano antes por US$ 42
milhões.
A jaqueta laranja não é mais a mesma. Nem a autoridade política de
Dilma, após ficar claro que ela avalizara a compra da refinaria Pasadena
em 2006. Somente agora, tantos anos depois, ela se disse enganada pela
diretoria da Petrobras, acusada de não ter explicado corretamente os
termos do negócio. Como fica a imagem de gestora competente, marca de
Dilma, assim como a jaqueta laranja é a marca da competência da
Petrobras? A combinação das duas imagens pareceu fora do lugar. Tudo ali
estava fora do lugar. O navio Dragão do Mar fora construído pelo
Estaleiro Atlântico Sul, uma sociedade entre as empreiteiras Camargo
Corrêa e Queiroz Galvão, ambas suspeitas de pagar propina para conseguir
contratos na Petrobras, segundo a PF investiga na Operação Lava Jato.
Nos últimos dias, Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras, e Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional,
foram ao Congresso Nacional falar sobre o caso da refinaria Pasadena.
Eles divergiram. Para Graça Foster, “o negócio originalmente concebido
tornou-se um investimento de baixo retorno sobre o capital investido.”
Para Cerveró, “foi um bom negócio, sem dúvida”. É útil relembrar a
cronologia da transação. Em 2004, a empresa belga Astra comprou o
controle acionário da refinaria Pasadena, no Texas, por US$ 42,5
milhões. A Astra pagou dívidas antigas, fez investimentos e vendeu 50%
da refinaria à Petrobras por US$ 360 milhões. Havia no contrato uma
cláusula segundo a qual, em caso de divergência entre os sócios, a
empresa divergente deveria comprar a parte do outro. Tal divergência
ocorreu em 2008, e a Astra fez uma proposta para vender a refinaria à
Petrobras. A Petrobras decidiu não pagar e entrar na Justiça. Perdeu – e
foi obrigada a pagar uma indenização de US$ 639 milhões.
O prejuízo, já grande, poderia ter parado por aí. Bastava à Petrobras
ter feito um acordo com a Astra. De acordo com documentos inéditos
obtidos por ÉPOCA, a Astra estava disposta a negociar. Em vez disso, a
Petrobras preferiu entrar na Justiça outra vez. Perdeu de novo – e o
prejuízo para o acionista subiu a US$ 1,2 bilhão.
Leia a íntegra em:
http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/04/novas-provas-de-bcorrupcao-na-petrobrasb.html