Do ESQUERDA.NET
Primeiro-ministro diz que “não tem o direito de desiludir os eleitores” e
define as prioridades: pôr fim à crise humanitária e abrir as
negociações sobre a dívida. Primeiras medidas são o cumprimento das
promessas eleitorais.
Primeira reunião do governo grego. Foto Left.gr
Ao
abrir a primeira reunião do novo governo na manhã desta quarta-feira [28/1], o
primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, começou a demolir a
política de austeridade que mergulhou o país numa das maiores crises da
sua história. “Vamos prosseguir o nosso plano”, assegurou Tsipras, até
porque “não temos o direito de desiludir os nossos eleitores”. A sua
intenção, esclareceu, é “fazer uma mudança radical na forma como a
política e a administração são conduzidas no país”.
A principal prioridade do governo, definiu, será pôr fim à crise
humanitária, mas também abrir as negociações sobre a insustentável
dívida. Sobre esta questão, o líder do Syriza afirmou que “não vamos
entrar num choque mutuamente destrutivo”, mas assegurou que “não vamos
prosseguir uma política de sujeição”.
Fim das privatizações
Antes ainda da reunião do gabinete, os ministros respetivos já tinham anunciado o fim dos planos de privatização da
Empresa Pública de Energia (DEH, sigla em grego), do Porto do Pireu e
de 14 aeroportos regionais. As 300 mil famílias que tiveram a
eletricidade cortada por falta de pagamento, vão recebê-la
gratuitamente.
Salário mínimo volta aos 751 euros
Por seu lado, o ministro do Trabalho, Panos Skourletis, anunciou que a
subida do salário mínimo para 751 euros será uma das primeiras leis do
governo. Era esse o seu valor em fevereiro de 2012, quando, por
imposição da troika, foi cortado para 586 euros, com o argumento de
“aumentar a competitividade”.
Serão reintegrados todos os funcionários públicos despedidos através de medidas inconstitucionais
O vice-ministro da Reforma Administrativa, Giorgos Katrougalos, disse
que serão reintegrados todos os funcionários públicos despedidos
através de medidas inconstitucionais, dando como exemplo o famoso caso
das mulheres da limpeza do Ministério das Finanças, de professores e de
funcionários de escolas.
O ministro da Saúde, Panagiotis Kouroumplis, anunciou que todos os gregos voltarão a ter acesso à saúde pública.
Imigrantes serão legalizados
A vice-ministra da Política de Migração, Tasia Christodoulopoulou,
anunciou a aplicação do “jus soli”, afirmando, num programa de rádio,
que o Estado dará nacionalidade a todos os filhos dos imigrantes que
tenham nascido e crescido no país. “E mesmo àqueles que não nasceram,
mas vieram para a Grécia muito novos”.
Ministro das Finanças
Mas o evento mais aguardado do dia era conferência de imprensa de Yanis Varolufakis, o novo ministro das Finanças.
Ao contrário do que fez o primeiro-ministro derrotado Antonis
Samaras, que não apareceu para a transmissão da pasta e deixou a sede do
governo totalmente vazia – nem a senha do Wi-Fi deixou! – Gikas
Hardouvelis veio passar o cargo e desejar felicidades ao seu sucessor.
Segundo o relato da correspondente do Guardian, a cara do já
ex-ministro começou a mostrar incredulidade quando Varoufakis, sem
papas na língua, demoliu a filosofia da austeridade, que definiu como
“um erro altamente tóxico que foi cometido neste mesmo edifício”.
O professor de economia disse que não é preciso ser-se economista para perceber que a lógica da austeridade só podia fracassar.
Varoufakis anunciou que a sua intenção é dar um “reboot” às economias
não só da Grécia, como de todo o continente, e que tentará fazer um New
Deal pan-europeu. Para pôr a cereja no topo do bolo, disse que ia
dispensar assessores e consultores que recebem altos salários e
contratar as mulheres da limpeza, em luta há quase um ano.
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