Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 20 de agosto de 2017

A mão de obra celestial

Agosto
20

A mão de obra celestial
Na serra equatoriana, ergue-se a igreja de Licto.
Essa fortaleza da fé foi reconstruída, com pedras gigantescas, enquanto o século XX nascia.
Como já não havia escravidão, ou pelo menos era o que a lei dizia, índios livres fizeram a tarefa: carregaram pedras nas costas, de uma pedreira distante, a várias léguas dali, e alguns deles deixaram a vida no caminho de penhascos profundos e veredas estreitas.
Os padres calculavam em pedras a salvação dos pecadores. Cada batismo era pago com vinte blocos, e um casamento custava vinte e cinco. Quinze pedras era o preço de um enterro. Se a família não pagasse, o defunto não entrava no cemitério, era enterrado em terra ruim, e dali mesmo ia diretinho para o Inferno.
        Eduardo Galeano, no livro Os filhos dos dias (Um calendário histórico sobre a humanidade), 2ª Edição, L&PM Editores, 2012, página 266.