Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Afinal, os pequenos crimes de Cristiane são maiores do que os da quadrilha de Temer?

Quarta, 10 de janeiro de 2018
José Carlos de Assis

Não consigo entender tanto barulho por conta da nomeação de Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho. Parece que ela comprometeria a respeitabilidade e honorabilidade do Governo. Contudo, ela está indiscutivelmente à altura da turma de Michel Temer.

Cristiane, filha de um condenado por corrupção, não é pior que Moreira Franco, condenado anos atrás por fazer promoção pessoal com dinheiro público.

Não é pior que Eliseu Padilha.
Não é pior que Geddel Vieira Lima, o homem dos 51 milhões.
Não é pior que Henrique Alves.
Não é pior que Romero Jucá.
Não é pior que Antônio Imbassahy
Não é pior que o secretário da mala Rocha Loures, o homem dos 10 milhões.
Não é pior que aliados do Planalto como Aécio Neves.
Não é pior que José Serra ou outros grão tucanos envolvidos com fraudes em São Paulo.
Ou pior que o buldogue Carlos Marun.
Ou pior que algo como 80 parlamentares da base do Governo indiciados por corrupção na Lava Jato.

Expliquem-me, por favor, porque todos esses podem estar no Governo ou ser suporte dele, e Cristiane não pode. É uma legítima representante da linhagem de Roberto Jefferson que tradicionalmente tem dado ao Congresso Nacional, e de uma forma radical e explícita na atual legislatura, as características do sujo jogo de venda de votos em troca de dinheiro, de emendas parlamentares, de cargos públicos e de ministérios.

Roberto Jefferson, um experiente negociante de apoio parlamentar, arrogante como é, deve ter dado um ultimato a Temer: ou nomeia logo Cristiane, por cima de decisões judiciais que eventualmente são impertinentes (aliás, também não entendi porque o Judiciário, explorando a própria vaidade e por suposta concessão ao clamor público, resolveu ser árbitro de biografias de ministros sem qualquer base constitucional), ou que demita todos os ministros acusados de fraude, limpando totalmente o ambiente que a ministra supostamente sujaria, ou vai sujar ainda mais.

Dados os precedentes raivosos de Jefferson, ele exigirá de Temer até mesmo a ruptura com o Judiciário. E seu argumento soará imbatível: acaso as culpas públicas de Cristiane, o pecado menor muito comum de não assinar carteiras de empregados, é mais grave que os crimes de Michel Temer que a Câmara dos Deputados impediu a Justiça de apurar com apoio de Jefferson? E não seria o caso de o Judiciário resolver pedir de volta, com base na ética, o cargo que Temer roubou da Constituição?

Fonte: Tribuna da Imprensa Sindical