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(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

No DF, as pontes estão desabando. Não só as de concreto

Sexta, 9 de fevereiro de 2018
Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna
O viaduto do Eixão que acaba de ruir é um ícone deste abandono generalizado e desta falta de responsabilidade no administrar desta cidade-estado.

Por Chico Sant’Anna
Brasília é uma cidade pensada, planejada e executada com zelo. Tudo nela tem seu lugar certo, sua razão de ser. É quase como se tivesse um manual de uso. Mas parece que nem todos tem a paciência de ler esse manual, ou se o leram, o ignoraram. Prestes a completar 58 anos, a cidade – que sob o olhar do governador Rodrigo Rollemberg é envelhecida – ainda é uma adolescente, se comparada às cidades centenárias do Brasil, ou um bebê engatinhando, quando colocada ao lado das urbes milenares mundo a fora. Mesmo assim, começa a ruir. E não são só os viadutos de concretos que desabam. Abandonada há décadas por maus governos, as rachaduras sociais estão por toda parte.

Ícone do abandono

O viaduto do Eixão que acaba de ruir é um ícone deste abandono generalizado e desta falta de responsabilidade no administrar desta cidade-estado. Não faltaram alertas para o estado de deterioração das chamadas obras de artes da capital. Em 2006, foi a UnB, contratada pelo GDF. Na ocasião, o engenheiro Antônio Carlos Teatine alertou em seu relatório sobre a necessidade de se programar a recuperação e manutenção não só das pontes e viadutos, mas também dos monumentos da cidade. O Instituto dos Arquitetos do Brasil-DF também acendeu sua luz amarela. Em 2011, o sindicato de Engenharia e Arquitetura indicou a necessidade de reparos emergenciais no viaduto que ruiu e em mais nove viadutos e pontes no DF. Em 2012, foi a vez do Tribunal de Contas do DF, e, em 2013, um estudo privado contratado pela própria Novacap fez o mesmo alerta e atestou que a corrosão devido as infiltrações havia mutilado os cabos de sustentação do viaduto que ora desabou e que outros estavam em mesmo estado de desgaste. Reação a todos esses alertas? A resposta está nos escombros sobre a Galeria dos Estados.
Pior do que ignorar os alertas foi a postura de evitar que lei obrigasse as vistorias sistemáticas. Em abril de 2017, a Câmara Legislativa do DF – sempre acusada de ser improdutiva e ineficiente – aprovou a lei 5.825 que tinha este propósito. Viadutos e pontes seriam submetidos à periódicas perícias técnicas. Sua Excelência, governador Rodrigo Rollemberg, preferiu vetar a lei. Resultado, o Distrito Federal é uma das raras Unidades da Federação onde a perícia e avaliação periódica de suas estruturas viárias não é uma obrigação do Estado.